terça-feira, 22 de outubro de 2013

Madeira substitui aço em construções

O movimento a favor da construção de grandes edifícios em madeira, como alternativa ambientalmente amigável ao aço e ao concreto, foi reforçado por uma fonte incomum -uma importante empresa de arquitetura conhecida por suas torres de aço e concreto.
A Skidmore, Owings & Merrill, sediada em Chicago, projetou uma longa lista de arranha-céus, incluindo o One World Trade Center, na zona sul de Manhattan. Ela desenvolveu um sistema estrutural que usa a chamada "mass timber" [madeira massificada] -colunas e vigas grossas laminadas, feitas com pedaços menores de madeira. Em um relatório deste ano, a empresa mostrou como o sistema pode ser usado para um edifício residencial de 42 andares, que emitiria menos carbono em sua construção que uma estrutura convencional.
"Queríamos ajudar no lado da sustentabilidade", disse William F. Baker, sócio da empresa. Com seu sistema, cerca de 70% do material estrutural é de madeira. A maior parte do resto, incluindo a fundação, é de concreto.
Benton Johnson, engenheiro que trabalhou no relatório, disse que os edifícios de madeira poderão ajudar a solucionar o problema de fornecer habitação adequada para os bilhões de pessoas que vivem nas cidades, enquanto se enfrenta a mudança climática.
Até agora, os edifícios em madeira eram defendidos principalmente por arquitetos e engenheiros de empresas menores de fora dos EUA. Eles aprovaram o relatório da Skidmore, Owings & Merrill. Michael Green, arquiteto de Vancouver, no Canadá, que ajudou a criar um sistema estrutural diferente para torres de madeira que foi detalhado em um relatório no ano passado, disse: "Essa é a primeira novidade na construção em cem anos".
Poucos edifícios modernos foram construídos com madeira em todo o mundo. Só um, um prédio de apartamentos que foi concluído neste ano em Melbourne, na Austrália, atingiu dez andares. O projeto de Green de um prédio de uso misto de 27 metros em Prince George, no Canadá, fará dele o mais alto de madeira na América do Norte quando for concluído, em 2014.
Construir torres elevadas exigirá mudanças nos códigos de construção -a maioria deles limita as estruturas de madeira a quatro andares ou menos- e nos métodos de construção. Além disso, arquitetos, engenheiros e empreiteiras terão de ser convencidos de que os prédios de madeira podem ser seguros, bonitos e rentáveis.
A produção de aço e concreto gera quantidades significativas de CO2, gás que produz o efeito estufa, e a madeira retém o carbono do CO2 retirado da atmosfera por meio da fotossíntese. Por isso, usar madeira nos elementos estruturais pode ajudar a compensar as emissões de carbono de outras partes do processo de construção e da operação do edifício pronto.
Não se trata da construção em molduras, tradicional nos EUA, em que os elementos são pregados uns aos outros. Ele é mais parecido com construir com lajes de concreto. Baker disse que, desde que as florestas sejam manejadas, os prédios sustentáveis de madeira não deverão ter grande impacto.
Também há milhões de pinheiros abetos na América do Norte que foram mortos por uma praga de besouros e poderiam ser usados para a produção de painéis.
O sistema da Skidmore, Owings & Merrill usa um tipo de madeira trabalhada que se chama madeira laminada colada, ou "glulam" na sigla em inglês, para as colunas do edifício e lajes de madeira laminada cruzada para o núcleo central, os pisos e as paredes estruturais, que fornecem rigidez contra rajadas de vento. Mas o conceito pede vigas de concreto ao longo do perímetro de cada piso e em outros lugares, para permitir vãos maiores e maior flexibilidade nos projetos.
Green apresenta em seu relatório um sistema que poderia ser usado para construir torres em regiões de atividade sísmica, como Vancouver. Em vez de concreto, ele usa algumas vigas de aço para permitir que o prédio reaja melhor às forças de terremotos.
Andrew Waugh, arquiteto britânico cujo prédio de apartamentos de nove andares em Londres, concluído em 2009, tornou-se um exemplo para o movimento das torres de madeira, disse que ambos os relatórios ajudam a dar força aos prédios com mais de dez andares. "É um momento muito animador", disse Waugh. "Parece o nascimento do voo -é um momento desse tipo na engenharia.

Por HENRY FOUNTAIN

Bill Gates investe em reator movido a lixo nuclear

BELLEVUE, Washington - Num prédio discreto em Bellevue, no Estado de Washington, engenheiros, físicos e especialistas nucleares estão investindo num sonho de Bill Gates: um novo tipo de reator nuclear que possa ser movido pelo lixo nuclear de hoje, fornecer toda a eletricidade que os Estados Unidos vão precisar pelos próximos 800 anos e, possivelmente, reduzir o risco de proliferação de armas nucleares.
Comandada por Gates e o também bilionário da Microsoft Nathan Myhrvold, a start-up TerraPower já levantou dezenas de milhões de dólares para o projeto, mas a construção de um protótipo de reator pode custar US$ 5 bilhões -razão pela qual Gates está procurando um espaço para a usina de demonstração na China, rica e sedenta por energia.
"A esperança é que encontremos um país que possa construir a usina-piloto, e o mais provável é que seja a China", disse Bill Gates no ano passado. "Se isso acontecer, a economia do nosso reator será muito superior à das usinas que temos hoje."
Os reatores nucleares atuais funcionam com concentrações de 3% a 5% de urânio 235, combustível enriquecido que deixa como resíduo uma substância pura, em sua maior parte natural, o urânio 238. Nesses reatores, parte do urânio 238 é convertida em plutônio, que é usado como combustível suplementar. No entanto, a maior parte do plutônio fica como resíduo.
Já o reator da TerraPower produziria mais plutônio a partir do urânio 238 para ser usado como combustível, de modo que operaria quase inteiramente a partir de urânio 238. Precisaria de apenas uma pequena quantidade de urânio 235, que funcionaria como o fluido de isqueiro que acende o carvão de uma churrasqueira.
O resultado, espera a TerraPower, seria que os países não precisariam enriquecer urânio nas quantidades que enriquecem hoje. Isso dificultaria as tentativas de esconder ambições de construir armas nucleares por trás do argumento da necessidade de grandes estoques de urânio enriquecido para um programa civil.
O conceito da TerraPower também dificultaria a lógica por trás de um segundo caminho para chegar a uma bomba: a recuperação do plutônio do combustível usado de reatores, que é como é feita a maior parte das armas nucleares. Como existe tanto urânio 238 disponível, não haveria mais razão para usar aquele plutônio.
Porém, todos concordam que essa ideia é uma aposta de longo prazo. Mesmo os otimistas dizem que será preciso esperar até, no mínimo, 2030 para comercializar essa tecnologia.
Um dos maiores desafios que a TerraPower enfrenta é que os nêutrons -partículas liberadas quando um átomo de urânio é partido- danificariam as partes metálicas do reator. O problema é contornável nos reatores de hoje porque o combustível não passa mais de seis anos no mesmo lugar. Mas a ideia é que o combustível da TerraPower fique parado por 30 anos no mesmo lugar. Assim, os engenheiros da start-up estão fazendo experimentos com metais de tipos diferentes e a temperaturas diferentes.
Outro problema é que, quando o urânio é partido, alguns dos fragmentos são gases. Isso é tolerável nos combustíveis atuais, mas nenhum combustível poderia resistir a um acúmulo de 30 anos.
O simples projeto do núcleo do reator é um problema adicional. O tempo de vida do núcleo, 30 anos, é tão longo que o estoque de produtos de fissão, alguns dos quais absorvem nêutrons, também pode mudar à medida que alguns materiais instáveis emitam radiação e se transmudem em outra coisa.
Para permitir que os nêutrons se desloquem a uma velocidade ótima para a conversão de urânio residual em plutônio combustível, o reator utiliza sódio, e não água, para moderar a velocidade dos nêutrons e levar embora o calor utilizável. Mas o sódio quente queima em contato com o ar.
A TerraPower não é a única a querer construir um reator que converta urânio residual em energia. A General Atomics, que tem décadas de experiência com energia nuclear, mas é mais conhecida por produzir o "drone" Predator, está investindo no que chama de módulo de reator "multiplicador energético", seguindo o mesmo princípio geral. Sediada em San Diego, na Califórnia, a empresa se propõe a usar hélio em lugar do sódio, potencialmente simplificando alguns problemas. "É só montar, deixar queimar e pronto", disse o vice-presidente sênior da General Atomics, John Parmentola.
Os engenheiros que trabalham para Bill Gates admitem que os desafios são imensos, mas estão convencidos de estar buscando, com Gates, a solução não apenas para a proliferação energética e de armas mas também para as mudanças climáticas e a pobreza.
Doug Adkisson, vice-presidente sênior de operações da TerraPower, disse que Bill Gates faz "uma avaliação muito humanitária, mas muito racional" da energia nuclear. O que o levaria a interessar-se por ela são as seguintes perguntas: "O que temos e o que podemos fazer para elevar o padrão de vida de milhões de pessoas?".

Por MATTHEW L. WALD
Fonte: Folha, NYT, 22.10.2013

Leilão Campo Libra - Novo modelo de partilha para o pré-sal (Petrobras, Shell, Total, CNPC e CNOOC)

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segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Política industrial e o petróleo

Na semana passada argumentei que a alteração do marco regulatório do petróleo promovida pela lei nº 12.351, sancionada em dezembro de 2010 e que estabeleceu as novas regras para a exploração na região estratégica do pré-sal, não teve como intenção --como muitos creem, e como chegou a ser argumentado pelo governo-- o aumento da receita pública em razão das novas condições geológicas.
O motivo é que a lei antiga apresenta essencialmente os mesmos instrumentos de arrecadação que a nova legislação. Alterações mínimas, possíveis de serem implantadas por meio de decretos presidenciais, teriam sido suficientes.
Assim, fica a questão: por que motivo alterou-se algo que estava funcionando bem?
Meu entendimento é que o objetivo do governo foi dotar o Estado brasileiro de instrumentos que facilitassem políticas de substituição de importação para a maioria dos elos da cadeia da indústria petroleira. Isto se refere tanto a elos à jusante da extração do petróleo (refino, por exemplo), como à montante --toda a indústria de bens de capital ligada à produção de plataformas. Ou seja, a alteração do marco regulatório constituiu uma ação de política industrial.
Dois instrumentos foram utilizados. Primeiro, estabelecer que a Petrobras será operadora única de todos os campos do pré-sal, com 30% do investimento. Segundo, a criação de uma empresa integralmente estatal, que será responsável pela defesa dos interesses da União. Esta empresa não investirá recursos, mas terá metade dos assentos no comitê operacional do consórcio formado pelas ganhadoras do direito de exploração.
Além disso, o presidente do comitê operacional será da nova estatal, de tal sorte que ela terá voto qualificado em caso de empate.
Na prática, as demais empresas participantes do consórcio serão investidores. Entrarão com o capital além dos 30% colocados pela Petrobras, mas terão participação muito menor no conselho que determina os rumos da operação.
Entende-se os motivos das empresas cujo negócio seja extrair petróleo não terem entrado. Elas não são instituições financeiras. O negócio delas é tirar petróleo debaixo da terra ou do mar, não financiar esta atividade.
O desenho regulatório descrito acima teoricamente facilita a coordenação entre a exploração e a produção de óleo, de um lado, e o desenvolvimento da indústria, de outro. O fato de a Petrobras ser operadora única ajuda a que ela celebre contratos de longo prazo com fornecedores locais. Os contratos de longo prazo dão horizonte para que esses fornecedores incorram nos custos iniciais de transferência de tecnologia para a produção local de bens e serviços, insumos da indústria até então importados.
Já o fato de a empresa pública a ser criada ter metade do conselho operacional do consórcio, com voto qualificado, garante que os interesses de exploração e comercialização do óleo serão submetidos aos interesses de desenvolvimento da indústria nacional.
Valeu a pena a alteração? Evidentemente, como dizem os ingleses, a prova do pudim é comê-lo. Teremos que esperar algumas décadas para sabermos. Os resultados iniciais são muito ruins.
A meu ver, o governo Lula, ao propor a alteração, subestimou as qualidades do marco anterior e superestimou seus defeitos. Equívoco inverso cometeu com o novo marco: subestimou os defeitos e superestimou as qualidades. Lembremos que o marco antigo foi responsável por enorme desenvolvimento da indústria nacional petrolífera.
Adicionalmente, parece-me que não se considerou outro custo --que tem que ser pago mesmo se o "status quo" for pior do que a alternativa--, que é o de transição. Estamos há diversos anos sem leilões na região do pré-sal, e, além disso, toda a alteração gerou enormes custos políticos e de gestão para o Estado brasileiro.
Dado os enormes problemas que temos de uma legislação tributária complexa, que atrasa o setor produtivo, e as dificuldades sem tamanho dos serviços públicos de saúde e educação, ter gasto tanto esforço em transformar algo que --por qualquer critério-- estava funcionando bem foi péssima alocação dos recursos extremamente escassos do Estado.
Fonte: Folha, 06.10.2013

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

"Gelo inflamável" pode garantir futuro energético do Japão

A estrada para o futuro energético do Japão pode passar por Sapporo, no norte do país, onde pesquisadores estudam sedimentos que contêm hidratos de metano, formações geladas de moléculas de água com o gás preso em seu interior.
Os sedimentos são encontrados em grande quantidade em todo o mundo, tanto sob o mar como no permafrost (solo permanentemente congelado). Se puderem ser usados com segurança, serão uma fonte abundante de combustível, especialmente em países com poucas reservas de energia, como o Japão.
Em março, Tóquio disse que produziu metano a partir de hidratos de sedimentos sob o oceano Pacífico. A iniciativa, conduzida a partir de um navio-plataforma na fossa de Nankai, foi o primeiro teste mundial de produção de hidrato em águas profundas.
Mas os cientistas dizem que ainda há muito a conhecer sobre as substâncias, chamadas às vezes de "gelo inflamável". "Precisamos saber mais sobre as propriedades físicas do hidratos e dos sedimentos", disse Hideo Narita, chefe do laboratório, que faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Industriais Avançadas.
Novas pesquisas vão ajudar os cientistas a entender o impacto ambiental da produção de hidrato, incluindo a possível liberação de metano, um dos gases causadores do efeito estufa. Também existe o potencial de que formações geológicas submarinas se tornem instáveis quando os hidratos forem removidos.
Timothy S. Collett, do Departamento de Pesquisas Geológicas dos EUA, disse que, apesar de toda a conversa sobre seu potencial energético, "os hidratos ainda são um problema científico".
A pesquisa apresenta desafios porque os hidratos se formam sob alta pressão, causada pelo peso da água do mar ou da rocha acima deles, e essa pressão deve ser mantida quando os núcleos de sedimentos são analisados. Caso contrário, os hidratos em seu interior se dissociam em água e gás, disse Carlos Santamarina, da Georgia Tech em Atlanta.

Os hidratos de metano intrigam os engenheiros do petróleo há décadas, pois podem se formar em oleodutos submarinos e obstruir o fluxo. Eles tiveram um papel pequeno mas indesejável durante os esforços para conter o vazamento de petróleo no golfo do México em 2010, bloqueando uma caixa de aço que conduzia o óleo para a superfície.
Encontrar hidratos durante a perfuração também pode complicar a exploração das reservas convencionais de petróleo e gás, mas há anos os cientistas consideram que os hidratos podem ser uma fonte de energia.
Às vezes, eles podem aparecer como blocos de gelo no leito marinho. No entanto, para a produção de energia, os pesquisadores estão mais interessados nos que se formam nos sedimentos. Eles são criados quando o metano -que é produzido por micróbios, calor e pressão atuando sobre matéria orgânica- migra para cima nos sedimentos e se mistura com a água em condições específicas de temperatura e pressão.
A substância gelada se forma nos espaços microscópicos entre grãos de sedimento, muitas vezes em grande quantidade. "Você tem muito metano, muita água e, adivinhe, eles vão formar hidratos", disse Carolyn Ruppel, da pesquisa geológica.
Os sedimentos arenosos, com grãos maiores, são preferíveis à argila. "Eles são muito permeáveis, por isso é fácil retirar os hidratos", diz Ruppel.
Técnicas convencionais não funcionariam bem em argila, que contém a maioria de reservas de hidrato conhecidas, porque o tamanho dos poros é muito menor, disse Santamarina. "Vai ser necessária uma boa engenharia para funcionar".
HENRY FOUNTAIN
DO "NEW YORK TIMES", 01.10.2013.

Demanda por carvão cai após China restringir compras

Na maior parte da década passada, a crescente fome da China por energia respondeu por mais de 50% da demanda mundial de carvão, elevando os preços do produto e estimulando a mineração na Austrália, Indonésia e até em países distantes como a Colômbia e a África do Sul.
Mas, nos últimos meses, as esperanças despertadas por essa tendência parecem ter recuado, diante da acomodação nos mercados mundiais de carvão. A demanda europeia é baixa, e as economias dos países emergentes estão se desacelerando. E depois de anos de importações crescentes, a China tomou medidas para reduzir as importações.
O país modernizou suas minas de carvão, aumentou a eficiência nas usinas termoelétricas que usam o combustível e acelerou o desenvolvimento de energia nuclear e renovável.
Em 12 de setembro, Pequim também anunciou uma proibição à construção de novas usinas a carvão na capital, em Xangai e em Cantão, para controlar a poluição do ar. O plano fará com que as novas plantas usem gás natural, energia nuclear e energia solar.
As iniciativas, acompanhadas pela desaceleração na China, minaram as expectativas quanto a importações e ajudaram a produzir um excesso de produção que causou queda de mais de 30% nos preços do carvão desde 2012.
"Estamos vendo o início de uma grande mudança estrutural, especialmente no setor de energia chinês", diz Richard Morse, da SuperCritical Capital, uma consultoria de energia. "Isso é um sinal significativamente pessimista quanto ao carvão".
Agora, as mineradoras reduzem suas atividades de extração e adiam projetos de exportação, da Austrália ao golfo do México, especialmente para o carvão usado na produção de eletricidade. Nos EUA, foi cancelada a construção de seis terminais de exportação do combustível.
Os preços internacionais do carvão estão em forte queda já há um ano. O carvão Newcastle, uma das referências do mercado, ficou abaixo dos US$ 80 (R$ 176) nas transações com entrega imediata, ante US$ 120 (R$ 264) em 2012.
Quando Austrália e Indonésia concentraram seus esforços de produção no mercado chinês, Japão e Coreia do Sul passaram a recorrer aos EUA para futuros suprimentos, o que estimulou o interesse na construção de terminais de exportação nos Estados do Oregon e Washington e na costa do golfo do México.
No começo de 2012, o setor carvoeiro norte-americano planejava expandir a capacidade portuária em 168 milhões de toneladas, mas as esperanças quanto a isso se dissiparam. As exportações dos EUA devem cair 5% neste ano, após o recorde de 113 milhões de toneladas no ano passado.
"Os preços mundiais do carvão no momento não oferecem sustentação a grandes exportações", disse Anthony Yuen, analista de energia do Citigroup.
A receita e os preços das ações das companhias carvoeiras também despencaram este ano, forçando as mineradoras a reduzir operações, especialmente na região dos Apalaches, onde as despesas são mais elevadas, e a demitir 6% dos funcionários no primeiro semestre.
Executivos do setor de carvão dos EUA reconhecem que passam por um período difícil. Ainda existem propostas para diversos terminais de exportação na costa noroeste, mas a oposição política local e anos de obstáculos regulatórios colocam em dúvida o futuro desses planos.
"É compreensível que as instituições financeiras fiquem nervosas quanto a esses projetos", diz Trevor Houser, diretor de pesquisa de energia e recursos naturais no Rhodium Group. "Não acredito que os preços voltem aos níveis generosos da última década".
Fontes: Folha/NYT, Por CLIFFORD KRAUSS. 01.10.2013

China enfrenta resistência para extrair petróleo na África

No Níger, as autoridades estão combatendo uma companhia chinesa passo a passo, desmanchando partes de um contrato que definem como nefasto. No vizinho Chade, o governo foi mais enérgico e bloqueou as atividades dos chineses, acusando-os de negligência ambiental. No Gabão, o governo confiscou grandes lotes petroleiros concedidos à China.
Como no passado, Pequim quer o petróleo africano. Mas, em lugar de aceitar os termos anteriores, que muitos dirigentes definem como rendição incondicional, alguns países da África estão reagindo, sugerindo que os dias de influência ilimitada do maior investidor no continente estão chegando ao fim.
Por anos, a China encontrou parceiros ávidos na África, com governos que recebiam positivamente sua grande disponibilidade de capital e seu distanciamento em relação à política local, como alternativa ao Ocidente.
Agora, as petroleiras chinesas são contestadas por governos que aprenderam duras lições sobre o controle de recursos por estrangeiros e decidiram revisar contratos já assinados. Nos casos em que as empresas são vistas como exploratórias, poluentes ou acumuladoras de terras preciosas, as autoridades começam a resistir.
"Isso é tudo que temos", diz Fourmakoye Gado, ministro do Petróleo do Níger. "Se entregarmos nossos recursos naturais, jamais sairemos da situação que vivemos".
A produção começou há quase dois anos no Níger, mas ainda não melhorou a qualidade de vida. Abaixo do gabinete do ministro, que fica em um sétimo andar ao qual se chega de escada porque os elevadores não funcionam, seus concidadãos vivem em casas de barro sem eletricidade, e lavam roupa nos rios.
"Temos de lutar para extrair o pleno valor desses recursos", disse Gado. "Se forem avaliados corretamente, podemos ter a esperança de propiciar algo ao nosso povo".
Segundo o ministro, uma auditoria privada feita a pedido do Níger identificou superfaturamento nos custos da China National Petroleum Corporation. Após as revisões, os chineses tiveram que devolver dezenas de milhões de dólares.
No Chade, as autoridades adotaram linha mais dura com a empresa, apesar da confiança crescente depois de dez anos de presença no país.
Em meados de agosto, o ministro do Petróleo suspendeu as operações chinesas após descobrir que a companhia despejava excedentes de petróleo cru em valas ao sul da capital Ndjamena, e forçava operários a remover os resíduos sem trajes de proteção.
"Simplesmente jogam o petróleo a céu aberto", disse Antoine Doudjidingao, economista que comanda uma organização de fiscalização em Ndjamena. "É um caso sério, o primeiro desse tipo. Não podemos ficar de olhos fechados diante dele".
Em agosto, o ministro do Petróleo do Chade negou a retomada das operações dos chineses até que fossem construídas instalações de tratamento. O governo local chegou a expulsar o diretor da companhia e seu assistente.
"O governo do Chade normalmente não se incomodaria muito com o vazamento. Mas isso parece ser um aviso de que mesmo os Estados africanos considerados fracos podem exercer influência e que as relações com os chineses não são tão desequilibradas quanto às vezes se argumenta", diz Ricardo Soares de Oliveira, professor da Universidade Oxford e especialista em petróleo.
No Gabão, o governo surpreendeu o setor petroleiro ao retirar a licença de outra estatal chinesa, a Sinopec, para a exploração de um campo de petróleo importante. As atividades foram transferidas para uma estatal gabonesa criada recentemente.
Em agosto, integrantes do governo ameaçaram cancelar as licenças para a exploração de outros campos, também por acusações de crimes ambientais e de gestão. Alguns analistas afirmam que a intenção gabonesa é faturar mais com esses campos.
O Ministério de Relações Exteriores chinês nega que o papel do país na região seja outra coisa que não frutífero. O país asiático afirma que contratou moradores locais e construiu escolas, perfurou poços e executou outras ações de bem-estar social no Níger.
Segundo a Chancelaria chinesa, Pequim exigiu que as companhias protegessem o meio ambiente e tentassem resolver a disputa no Chade por meio de "negociações amistosas". A respeito do Gabão, diz que apoia a plena cooperação "com base em igualdade, amizade e benefício mútuo", assim como em outros países.
Mas os governos africanos, embora gratos pelas estradas e edifícios construídos pelos chineses, deixaram de ser parceiros passivos.
"Creio que esse seja o começo de uma mudança entre os países africanos e os chineses. Estamos nos conscientizando", diz Doudjidingao.
Fonte: ADAM NOSSITER
DO "NEW YORK TIMES", EM NIAMEY (NÍGER), 01.10.2013.

Alemanha enfrenta barreiras para energia limpa Custo e logística travam energia limpa na Alemanha

BERLIN - É um empreendimento audacioso, que goza de amplo apoio na Alemanha: fechar as usinas nucleares, livrar o país do carvão e promover uma mudança geral para fontes de energia renováveis.
Mas o plano, aprovado pela chanceler Angela Merkel e também pelos partidos de oposição, enfrenta problemas em sua execução que obrigam os alemães a suportar custos e complexidades para pôr em prática seus princípios.
As famílias alemãs são atingidas por taxas de eletricidade em rápida ascensão, a ponto de que um número crescente não consegue mais pagar a conta. As empresas estão cada vez mais preocupadas que os custos da energia as coloquem em desvantagem com os concorrentes de outros países, enquanto outras começaram a deixar o país.
Fazendas eólicas recém-construídas em alto-mar aguardam ser ligadas à rede energética que precisa de expansão. E, apesar de todos custos, as emissões de carbono aumentaram em 2012, pois as usinas a carvão foram acionadas para fechar lacunas no abastecimento.
Uma nova expressão entrou no léxico: "pobreza energética". "Muitas vezes não vou para minha sala para economizar eletricidade", disse Olaf Taeuber, 55, que é gerente de uma frota de veículos em Berlim.
Taeuber conta com apenas uma lâmpada de 5 watts, que emite uma luminosidade "aconchegante", em sua cozinha quando chega em casa à noite. Se realmente precisar, acende um tubo de neon que consome 25 watts. Mesmo assim, ele teve de pedir ajuda para evitar que sua eletricidade fosse cortada.
Ele faz parte de um número crescente de alemães que enfrentam as realidades de pôr em prática o projeto mais ambicioso de Merkel e uma das iniciativas de transformação de energia mais abrangentes feitas por um país industrializado. Continuar a implantação do programa e manter o apoio da população serão desafios da chanceler alemã em seu terceiro mandato.
Merkel apresentou seu plano em 2011, depois do desastre nuclear na usina nuclear de Fukushima, no Japão. Ele prevê o fechamento de todas as usinas nucleares alemãs até 2020 e a mudança quase total para energia eólica e solar até 2050, com um custo de aproximadamente US$ 735 bilhões (R$ 1,62 trilhão), maior que as ajudas à zona do euro.
Os custos para o Estado, as grandes companhias e os consumidores aumentaram conforme surgiram complicações durante a transição.
Taeuber esteve recentemente em uma agência em Berlim que ajuda pessoas com dificuldade para pagar as contas de luz e conseguiu um adiamento para não ter sua energia cortada.
Cada consumidor é obrigado a pagar cerca de US$ 270 (R$ 600) adicionais este ano para subsidiar as novas operadoras de energia renovável. Segundo Sven Gärtner, funcionário do órgão, a população de baixa renda é a mais afetada.
"A transformação da energia tem sentido, mas sua implementação foi confusa, descoordenada", disse Gärtner. "Não se pode esperar que as pessoas continuem cortando em outras áreas. Elas ganham o suficiente para cobrir as necessidades energéticas básicas."
Parte da razão para que os preços ao consumidor tenham aumentado tanto é que, por enquanto, o governo poupou cerca de 700 empresas do aumento dos custos de energia, para proteger sua competitividade na economia global.
Os usuários industriais alemães ainda pagam mais pela eletricidade que no Reino Unido ou na França, e quase o triplo que os dos EUA, segundo um estudo feito pela gigante industrial alemã Siemens. O Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia disse que houve um forte declínio no interesse do setor industrial por investir na Alemanha desde 2000.
Um terço das companhias de produtos eletrônicos e de automóveis aumentaram seus lucros com o plano, e 11% das indústrias químicas e metálicas tiveram prejuízos, segundo o instituto econômico alemão.
"Estamos chegando a uma etapa crítica, e todos os políticos estão conscientes disso", disse Udo Niehage, responsável pela transição na Siemens. "Os custos estão ficando altos, talvez demais, e você tem de ver as consequências para a competitividade de nossa indústria."
Além dos custos há os desafios logísticos de transferir 80% do consumo de energia para fontes renováveis, algo nunca tentado em escala tão grande. Um dos primeiros obstáculos encontrados é a inconstância da geração de energia por fontes renováveis, como o vento e o sol.
Ninguém inventou um modo de armazenar essa energia por muito tempo. Isso significa excedentes problemáticos em alguns dias e uma escassez paralisante em outros, que exige acionar as antigas usinas termelétricas a óleo e carvão.
No ano passado, fontes eólicas, solares e outras de combustíveis não fósseis forneceram 22% da energia da Alemanha, mas o país aumentou suas emissões de carbono em 2011 enquanto as usinas a óleo e carvão tiveram de suprir lacunas no sistema em evolução, segundo a associação de eletricidade da Alemanha BDEW.
"É ótimo que tenhamos alcançado uma porcentagem tão alta de energia renovável", disse Michael Hüther, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia. "Mas há repercussões negativas que hoje começamos a perceber que devem ser abordadas."
Grandes fazendas eólicas em alto-mar que foram construídas no norte menos povoado da Alemanha geram energia que deve ser transportada para indústrias e cidades no sul.
"Trabalhamos 24 horas por dia e nos fins de semana", disse Irina Lucke, que passou a maior parte do último ano na ilha arenosa de Borkum, no mar do Norte, supervisionando a montagem de 30 turbinas da maior fazenda eólica em alto-mar.
Essas turbinas provavelmente só vão gerar energia no próximo ano. Os trabalhadores devem remover do leito marinho equipamentos abandonados da Segunda Guerra Mundial para que possam instalar um cabo até o litoral. "É realmente frustrante", disse Lucke. O atraso ameaça acrescentar US$ 27 milhões (R$ 60 milhões) ao custo de US$ 608 milhões (R$ 1,34 bilhão) do parque eólico.
Em terra, a rede elétrica da Alemanha foi sobrecarregada pelos novos projetos eólicos e solares, obrigando o governo a investir até US$ 27 bilhões (R$ 60 bilhões) na próxima década para construir aproximadamente 2.700 quilômetros de linhas energéticas de alta capacidade e modernizar as linhas existentes.
O grande estado principalmente rural de Schleswig-Holstein, no norte do país, produz até 12 mil megawatts de energia com novas turbinas eólicas e painéis solares, mas só consegue consumir um sexto dela.
"Schleswig-Holstein é um microcosmo da Alemanha", disse Markus Lieberknecht, da operadora de rede Tennet. "Se antes a energia era trazida para o estado e distribuída para as pequenas comunidades, hoje essas comunidades produzem a energia e precisamos encontrar uma maneira de transmiti-la para as áreas urbanas maiores", disse ele, acrescentando: "Tudo está de cabeça para baixo".
    Fonte: Folha / NYT, em 01/10/2013
    Por MELISSA EDDY e STANLEY REED