quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Vendas frustram meta da Renault-Nissan para elétricos: Para o brasileiro Carlos Ghosn, presidente da montadora, problema não é o preço, mas a falta de pontos de carga

DA ASSOCIATED PRESS
As vendas mundiais de carros elétricos estão mais de quatro anos atrasadas em relação às expectativas, disse Carlos Ghosn, da Renault-Nissan.
A líder em vendas dessa tecnologia admitiu pela primeira vez que não vai cumprir sua meta de chegar a 1,5 milhão de veículos elétricos até o final de 2016.
Como presidente-executivo da Renault e da Nissan, Ghosn investiu bilhões de dólares em veículos elétricos, e se tornou seu mais ardoroso defensor público.
"Na velocidade atual, devemos demorar mais quatro ou cinco anos", disse Ghosn.
Apesar de muito alarde, grandes investimentos e da pressão dos governos sobre as montadoras a fim de promover veículos com baixas emissões, os carros elétricos até o momento vêm se provando caros na produção, difíceis de vender e prejudicados pela quilometragem limitada que oferecem e pela falta de infraestrutura de recarga nos mercados mais importantes --a chamada "ansiedade de autonomia".
120 MIL VEÍCULOS
Renault e Nissan venderam juntas mais de 120 mil veículos elétricos nos cinco últimos anos, mais do que qualquer outra montadora. O Nissan Leaf é o carro elétrico mais vendido do planeta, com cerca de 85 mil unidades vendidas até o momento.
Mas a falta de infraestrutura de carregamento e apoio para os veículos prejudicou as vendas iniciais e forçou a companhia a moderar suas expectativas.
"Temos de admitir que as coisas são mais lentas do que imaginávamos. Mas são mais lentas porque imaginávamos que a infraestrutura seria construída mais rápido. E não está sendo", diz Ghosn.
"Não creio que a principal questão hoje seja o custo do carro. A principal questão é a infraestrutura. É normal. Eu não compraria um carro a gasolina se não houvesse postos de gasolina."
Em mercados como a Noruega ou o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, saudáveis incentivos governamentais aos compradores e uma rede ampla de pontos de recarga estimularam a demanda por veículos elétricos.
Embora rivais como a General Motors, Honda e Mitsubishi tenham desenvolvido carros elétricos, e companhias menores como a Tesla Motors tenham obtido sucessos com modelos alimentados apenas por baterias, o compromisso da Renault-Nissan para com essa forma de propulsão fez dela a líder do setor.
Mas analistas dizem que a decisão da Volkswagen e da BMW, que revelou seu primeiro modelo elétrico recentemente, de ingressar no mercado em ascensão pode acelerar o crescimento das vendas.
ALEMÃES À VISTA
"Hoje não há ninguém, mas eles virão", disse Ghosn sobre a concorrência no mercado de carros elétricos. "Alguns de nossos concorrentes alemães já anunciaram que estão chegando. Serão nossos principais competidores. E é isso. Outros anunciaram um carro aqui, outro ali".
A aliança franco-japonesa anunciou um acordo com a Mitsubishi na semana passada para que as três empresas trabalhem juntas em um pequeno carro elétrico para venda mundial, o que deve reduzir ainda mais os custos da tecnologia.

    Vale adere ao Refis e reduz dívida com o fisco em R$ 24 bi: Débito se refere a tributos sobre lucros no exterior; com a adesão, governo terá R$ 6 bi neste ano para superavit

    Decisão ocorre um dia depois de o STJ suspender julgamento de recurso da empresa contra a cobrança
    PEDRO SOARESDO RIO
    A Vale decidiu ontem aderir ao programa federal de parcelamento de dívidas tributárias e vai conseguir reduzir de R$ 45 bilhões para R$ 20,725 bilhões um débito que tem com o governo relativo a impostos sobre o lucro de suas filiais no exterior entre 2003 e 2012.
    Segundo a mineradora, a adesão ao Refis implicará pagamento à Receita Federal de R$ 5,965 bilhões até o fim deste mês --dinheiro que o governo usará para tentar se aproximar de sua meta de superavit primário.
    Mais R$ 16,360 bilhões serão parcelados em 179 meses, com os valores corrigidos pela taxa básica de juros Selic. O pagamento deverá ter impacto no balanço da mineradora neste ano.
    O problema da incidência de Imposto de Renda sobre controladas no exterior não afeta só a Vale. Outras empresas, em escalas diferentes, sofreram autuações da Receita.
    Nos últimos meses, o Ministério da Fazenda negociou intensamente com as multinacionais brasileiras as condições do Refis e a nova legislação sobre a tributação de lucros no exterior.
    O Refis foi considerado generoso pelas empresas, mas a medida provisória que regulamenta a lei é alvo de emendas de parlamentares.
    A decisão da Vale de aderir ao programa foi tomada um dia depois de o STJ (Superior Tribunal de Justiça) suspender o julgamento de recurso da empresa contra a cobrança da dívida bilionária pela Receita.
    A Vale informou que irá desistir das ações judiciais referentes aos anos de 2003 a 2012. O ano de 2013 não foi coberto pelo Refis, informou o presidente da Vale, Murilo Ferreira. O ano de 2002 também será julgado separadamente.
    "As condições propostas viabilizaram considerável redução dos valores em discussão, sendo a decisão de aderir ao Refis coerente com nosso objetivo de eliminar incertezas e de liberar esforços para a concentração na gestão dos negócios da Vale", afirmou Ferreira.
    O montante maior de encargos ficará para este ano, mas as despesas financeiras incluirão os encargos de juros cobrados sobre as parcelas refinanciadas nos próximos anos.
    De acordo com o executivo, os recursos para pagar a dívida virão do fluxo de caixa da companhia. Não há, diz, necessidade de elevar o endividamento da empresa.
    Da dívida total de R$ 45 bilhões, R$ 17,084 bilhões são o principal (o débito tributário, em si), R$ 9,831 bilhões se referem a multa, R$ 11,991 bilhões, a juros e juros sobre multas, e R$ 6,094 bilhões, a encargos.
    Fonte: Folha, 28.11.13.

    terça-feira, 26 de novembro de 2013

    Sem definir regras, Brasil leiloa gás de xisto: Técnica que explode rochas no subsolo para liberar produto, proibida na Europa, não é regulamentada no país

    Entidades pedem o cancelamento do leilão, marcado para quinta; ANP diz que disputa é apenas um "piloto"
    DENISE LUNADO RIO
    O primeiro leilão exclusivo para a concessão de áreas para prospecção de gás em terra, marcado para esta quinta-feira, acontecerá sem que o Brasil tenha uma lei específica para regulamentar a exploração feita por fraturamento hidráulico --técnica usada para a extração do chamado gás não convencional.
    Esse tipo de gás fica contido dentro das rochas --diferentemente do gás convencional, encontrado em reservatórios subterrâneos. Por isso, para extraí-lo, é preciso explodir as rochas, o que é feito por meio da injeção de grandes quantidades de água misturada a produtos químicos, em grande pressão.
    Conhecida como "fraturamento hidráulico", a técnica é criticado por ambientalistas e foi proibida na França e na Bulgária.
    No Brasil, a falta de regras claras levou a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental e mais 12 entidades a enviar à presidente Dilma Rousseff um pedido para cancelar o leilão, até que se discuta melhor a exploração do gás não convencional no país.
    Para o presidente da entidade, Dante Ragazzi Pauli, o leilão está sendo realizado com muita pressa, um erro que o governo vem cometendo em várias áreas. "Não somos contra o leilão, mas é preciso discutir mais o assunto."
    Em defesa do leilão, a diretora-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Magda Chambriard, diz que está encarando o certame como um "piloto" para iniciar a exploração de gás em terra, seja convencional ou não.
    A resolução sobre o fraturamento hidráulico só ficará pronta no começo do ano que vem, "porque não vai ter fraturamento agora", argumenta a diretora da ANP.
    Ela espera um leilão mais fraco do que o realizado no início do ano e já sabe que "não vai arrecadar bilhões (de reais)". Apenas 12 empresas depositaram garantias, mas, segundo ela, a expectativa é que seja o início de uma exploração mais intensiva de gás no país.
    "Queremos chamar a atenção das empresas para o gás em terra, seja convencional ou não convencional. Com a exploração dessas empresas, teremos mais informações sobre essas áreas", afirma.
    Segundo ela, a resolução a ser feita trará, por exemplo, a obrigatoriedade do concessionário de informar a distância entre a rocha geradora de gás e os aquíferos próximos, para que não haja contaminação. Outro compromisso será o revestimento e a cimentação dos poços, para evitar que eventuais rompimentos poluam a região.
    O concessionário também será obrigado a entregar à ANP uma análise do aquífero que se encontrar perto do bloco antes do início da exploração, para garantir uma possível responsabilização do concessionário em caso de contaminação.
    Fonte: Folha, 26.11.2013.
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    quarta-feira, 20 de novembro de 2013

    Brasil terá novo monitoramento de emissões de CO2: Objetivo do governo é melhorar acompanhamento das metas de corte de emissões em diferentes setores

    GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL A VARSÓVIA
    O Ministério do Meio Ambiente aproveitou o começo das negociações decisivas da 19ª conferência mundial do clima da ONU, a COP-19, que vai até sexta em Varsóvia, para lançar uma plataforma de monitoramento de seus principais planos de redução de emissões de gases-estufa.
    O objetivo da ferramenta é ser um termômetro da precisão do andamento dos cinco planos do país para atingir a meta de cortar entre 36,1% e 38,9% de suas emissões de carbono até 2020.
    Os eixos principais são a prevenção do desmatamento da Amazônia e do cerrado, a geração de energia com fontes renováveis, o incentivo à agricultura de baixo carbono e incentivos e melhorias no uso de carvão vegetal na indústria de ferro e aço.
    Batizado de SMMARE (Sistema Modular de Monitoramento de Ações e Redução de Emissões de Gases-Estufa), o projeto deve começar a funcionar no início de 2014.
    TRANSPARÊNCIA
    Segundo o secretário de Mudanças Climáticas do ministério, Carlos Klink, a ferramenta deve aumentar o grau de transparência do andamento das ações para reduzir as emissões. Os dados deverão ser públicos.
    "É um trabalho de um ano e meio. Um trabalho extenso que ficou maduro agora."
    O Brasil já faz um monitoramento das emissões setoriais, que fica a cargo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, mas elas são feitas no âmbito do inventário de emissões, documento oficial que é produzido sem periodicidade definida, diferentemente do que se espera para o monitoramento do Ministério do Meio Ambiente.
    Segundo Klink, com a plataforma, será possível identificar se as políticas para reduzir emissões estão funcionando e o que pode ser melhorado e corrigido.
    Já foram investidos cerca de US$ 350 mil na ferramenta, e o governo estima que o custo de manutenção anual da alimentação da plataforma com os dados passará de US$ 2 milhões, dada a complexidade das informações.
    "Mas é um dinheiro que vale a pena, que vai nos permitir saber com clareza como estão nossas reduções."
    A plataforma também foi pensada para ser usada pela chamada ICA, um mecanismo de consulta e análise internacional de dados.
    Segundo o documento de apresentação, seria uma maneira "não intrusiva, não punitiva e que respeita a soberania nacional" de aumentar a transparência internacional sobre as ações do país.

    terça-feira, 19 de novembro de 2013

    Polônia se aferra ao uso do carvão

    BELCHATOW, Polônia - Eles a chamam de "o maior buraco no chão da Polônia". A mina de carvão nesta cidade tem mais de 13 quilômetros de comprimento, quase 3 de largura e cerca de 300 metros de profundidade. "Toda a população do mundo caberia neste buraco", disse Tomasz Tarnowski, administrador do local, com certo exagero, enquanto conduzia um grupo que passava perto de uma montanha de carvão marrom na entrada da mina.
    A Polônia é o colosso do carvão europeu. Mais de 88% de sua eletricidade vêm do carvão. Belchatow é uma de suas enormes fontes e o maior emissor de carbono da Europa.
    Neste mês, uma conferência da ONU sobre mudança climática se realiza na Polônia, local que muitos ativistas ambientais consideram a escolha menos apropriada que se poderia imaginar. Enquanto a União Europeia traçou metas ambiciosas de energia limpa, destinadas a reduzir os gases do efeito estufa ligados ao aquecimento global, a Polônia tem sido contra a redução dos combustíveis fósseis.
    Dentro da UE, a Polônia foi atuante no bloqueio de regulamentações mais rígidas para conter a mudança climática, em contraste com a Alemanha, que apostou seu futuro energético em tecnologias limpas e renováveis como a eólica e a solar.
    A Polônia também tentou derrubar propostas contra o fraturamento hidráulico, ou fracking, um meio de extração de gás natural que grande parte da UE -com a notável exceção do Reino Unido- observa temerosamente como um risco ambiental.
    As autoridades polonesas mostraram-se pouco inclinadas a abandonar sua obsessão pelo carvão, dizendo que o país não tem condições de se converter rapidamente para fontes alternativas de energia.
    Tudo isso acontece enquanto os cidadãos poloneses vão às ruas de Cracóvia em protesto contra a má qualidade do ar da cidade. Indagado sobre sua opinião pessoal sobre a mudança climática, o ministro do Meio Ambiente, Marcin Korolec, disse: "Não sou cético quanto a mudança climática. Sou cético quanto a algumas das maneiras europeias de abordá-la".
    A estratégia do carvão da Polônia tem implicações tanto para os poloneses quanto para a Europa de maneira geral. Seis das dez cidades europeias com maiores concentrações de material particulado (poeira) no ar estão na Polônia, incluindo Cracóvia, que fica em terceiro lugar, logo após as cidades de Pernik e Plovdiv, na Bulgária, segundo dados do governo europeu. O material particulado consiste em pequenas gotas ou partículas de gás transportadas pelo ar que vêm de chaminés e exaustores ou da queima de madeira ou carvão para aquecimento doméstico. Apesar de grandes cidades como Cracóvia e Zabrze não terem uma poluição comparável à de Pequim, seus níveis estão muito além das concentrações consideradas seguras por especialistas em saúde.
    Nos últimos anos, a Polônia exerceu um papel mais ativo na União Europeia e no Conselho Europeu, que inclui líderes nacionais e governa por decisões unânimes entre os 28 países membros. Em junho de 2011 a Polônia foi a única contrária às metas climáticas que deveriam começar em 2020.
    Em março de 2012 a Polônia efetivamente vetou um plano semelhante de reduções de emissões em longo prazo, exasperando as autoridades europeias. "A UE não pode trabalhar assim", disse a comissária europeia do Clima na época, Connie Hedegaard. "Não podemos avançar se o [país] mais relutante dita o ritmo dos demais." Mas a Polônia se manteve firme.
    O governo de centro-direita, que chegou ao poder em 2007, não mudou seu rumo quanto à energia. O primeiro-ministro Donald Tusk disse em setembro que o carvão é uma das bases da economia polonesa. O principal partido de oposição, Lei e Justiça, é ainda mais de direita. Ele é liderado por Jaroslaw Kaczynski, segundo o qual o dióxido de carbono não tem impacto sobre o clima.
    A esquerda tem pouca voz nessa questão, pois está em um turbilhão há vários anos por causa de uma série de escândalos de corrupção.
    A estratégia do carvão foi parcialmente influenciada pelo relacionamento frágil da Polônia com a Rússia, que usa suas reservas de petróleo e gás natural como arma política. Esse é um dos motivos pelos quais a Polônia buscou maior independência energética, dependendo de seu próprio carvão.
    A Polônia já foi um dos maiores exportadores do produto. Mas hoje sua economia industrial cresceu tanto que o país não pode mais suprir suas próprias necessidades.
    Hoje ela importa o minério e, em uma ironia energética, a Rússia responde por cerca de dois terços dessas importações. No ano passado, a Polônia comprou mais de 6 milhões de toneladas de carvão russo, segundo a Euracoal, um grupo setorial.
    Os cidadãos poloneses estão reagindo. Recentemente em Cracóvia centenas protestaram contra a poluição do ar.
    Lena Kolarska-Bobinska, membro do partido governante da Polônia que serve no Parlamento Europeu, disse que quer diversificar a matriz energética da Polônia, mas em seu próprio ritmo. "O único problema para nós é ir cada vez mais longe e mais rápido", disse ela. "O que tentamos fazer é influenciar a velocidade com que a UE está pressionando."
    Por DANNY HAKIM e MATEUSZ ZURAWIK
    Fonte: NYT

    Cidade de 4.000 habitantes no PR vai tirar luz de esterco de porcos

    Com 130 mil suínos, Entre Rios do Oeste deve ter usina de energia movida a metano
    FELIPE GUTIERREZDE SÃO PAULO
    Se o plano der certo, em um ano e meio, Entre Rios do Oeste, no Paraná, irá gerar toda a eletricidade que consome só com esterco de porco.
    A cidade tem 4.000 habitantes e 130 mil suínos e está a caminho de implementar uma usina de energia movida a metano.
    O projeto já tem garantidos R$ 19 milhões para começar a sair do papel no começo de 2014, diz José Marques Filho, da Copel, a distribuidora de energia que está por trás do sistema. Por lei, a empresa precisa investir em pesquisa e desenvolvimento.
    Para captar o metano gerado por bactérias presentes no esterco, será construída uma rede de gasodutos que irá conectar os sítios de suinocultura à usina.
    Dos 93 proprietários rurais da cidade, 63 assinaram um termo de adesão ao plano.
    Ademir Roberto Escher, 42, é um deles. Ele cria 1.200 porcos e precisa limpar os três pavilhões do chiqueiro duas vezes por dia.
    Escher prepara-se para instalar no seu sítio um biodigestor --uma torre na qual ele irá jogar as fezes do porco. Lá dentro, as bactérias irão agir e gerar o metano, que será captado e jogado na rede de gasodutos. O sitiante será remunerado pelo gás que entrar nessa rede.
    Esses biodigestores já existem no mercado para interessados em gerar energia ou gás para suas propriedades.
    O preço varia de acordo com a quantidade de fezes que a produção gera. No caso de Escher, por exemplo, pode sair por R$ 40 mil.
    "Não se sabe dizer ainda quanto pode entrar no bolso dos agricultores. São propriedades pequenas, de 10, 12 hectares", diz Edinardo Aguiar, consultor do Sebrae que está auxiliando os sitiantes a participarem.
    "No país, isso nunca será possível, mas, nessa cidade, residências, comércio e setor público podem ser supridos apenas com resíduos dessa origem", diz Máximo Luiz Pompermayer, diretor da Aneel, agência que regulamenta o setor elétrico.
    Ainda assim, o projeto, "de um ponto de vista puramente econômico", não faz sentido, afirma. Ele ressalta que trata-se de uma pesquisa na qual a distribuidora de energia precisa investir.
    Mas o prefeito Jones Neuri Heiden (DEM) já conta com a economia que terá. Hoje, o município gasta cerca de R$ 9.000 com eletricidade.
    Fonte: Folha, 19.11.13.

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    Commodities: Agronegócio ajuda setor de implementos e de serviços

    A indústria se animou com a venda de caminhões. Após ter queda no faturamento em 2012, os licenciamentos subiram 14% até outubro. As montadoras investirão R$ 4,6 bilhões até 2016.
    A alta nas vendas ocorre, em boa parte, devido à produção no campo. Se o agronegócio puxa a venda de caminhões, o bom desempenho desses se espalha pelos segmentos que fornecem produtos e serviços. O resultado é uma revisão do plano de crescimento e de investimentos.
    "Já estamos sentindo a retomada", destaca o diretor-executivo da Randon, Norberto José Fabris. Em 2012, o mercado vendeu 52 mil reboques. Em 2013, serão 68 mil, afirma.
    De olho no potencial do mercado, a empresa investiu R$ 500 milhões em sete anos. Em 2012, reduziu o número de trabalhadores, mas neste ano já repôs esses funcionários e vai contratar mais 300.
    Com investimento de R$ 15 milhões, a Rodoforte abrirá unidade em Jacutinga (MG), que começa a operar em 2014 e elevará em 20% a capacidade de produção. Junto com a unidade de Sumaré (SP), a expectativa é elevar a produção em 40% em 2014.
    "O setor de implementos depende muito do de caminhões e já sentimos o reflexo da retomada", diz José Soler, diretor-executivo.
    Outra área que lucra com as vendas de caminhões, de tratores e de máquinas agrícolas é a de pneus. "A expectativa é de expansão de 11% neste ano e de 10% em 2014", diz o diretor comercial da Vipal, Plínio de Luca.
    A Continental viu seu faturamento encolher cerca de 50% em 2012, devido à redução nas vendas de caminhões e à briga com os importados. "Para este ano, a expectativa é de expansão de 90% ante 2012", diz Renato Sarzano, diretor-superintendente.
    O aumento de demanda fará a Bridgestone contratar 300 trabalhadores em 2014. De acordo com o gerente-geral Marcos Aoki, a empresa acumula alta de 20% na comercialização até setembro.
    A Pirelli anunciou que vai investir US$ 200 milhões até 2015 para desenvolver uma nova linha de pneus.
    O setor de reforma de pneus também está animado, e deverá crescer de 10% a 15% neste ano, segundo Saulo Muniz Gonçalves, diretor comercial da Moreflex.
    Cana A safra 2014/15 terá área de corte de 7,7 milhões de hectares no centro-sul e de 1,1 milhão no Nordeste.
    Renovar A avaliação é de Julio Maria Borges, da JOB Economia e Planejamento. O rendimento agrícola no centro-sul será de 80 toneladas de cana por hectare, graças à renovação de canaviais e ao clima.
    Moagem Borges acredita em uma moagem de 617 milhões de toneladas no centro-sul, com uma sobra de 23 milhões. O rendimento industrial deverá ser de 136 kg de ATR por tonelada de cana.
    Lições de 2013/14 A lição do Brasil para os demais países é que, apesar do aumento da moagem, o país não vai ter aumento da produção de açúcar, que fica em 34,4 milhões de toneladas em 2013/14.
    Perspectivas O fim dos investimentos no setor fará com que a safra 2014/15 seja a última do centro-sul a ter expansão relevante de moagem, que deverá ficar entre 4% e 5%, segundo Borges.
    MAURO ZAFALON mauro.zafalon@uol.com.br

    Recuo dos EUA deve afetar venda de etanol: Um dos efeitos reflexos do gás de xisto

    Governo americano propõe reduzir taxa de mistura do biocombustível à gasolina e ameaça exportações brasileiras
    Avanço lento do etanol celulósico e oferta limitada brasileira são motivos para abandono de meta criada em 2007
    TATIANA FREITASDE SÃO PAULOJOANA CUNHADE NOVA YORK
    Principal produtor e consumidor de etanol do mundo, os EUA deram um passo atrás no plano de expandir a presença do biocombustível em sua matriz energética, o que deve limitar as exportações brasileiras do produto.
    De acordo com a legislação estabelecida em 2007, as refinarias deveriam misturar 68,7 bilhões de litros de combustíveis renováveis à gasolina em 2014, o que representaria mais de 10% do volume abastecido pelos motoristas.
    Na sexta-feira, seis anos após a publicação da lei, a EPA (agência de proteção ambiental) propôs uma redução de 16% nesse volume.
    O corte nas metas para a mistura foi mais significativo entre os biocombustíveis avançados --que incluem o etanol de cana--, cuja exigência cairia de 14,2 bilhões de litros para 8,3 bilhões.
    Neste ano, para cumprir a meta de mistura de 10 bilhões de litros, os americanos devem importar cerca de 2 bilhões de litros do Brasil.
    A proposta, que ainda precisa passar por audiência pública durante 60 dias, limita o potencial de crescimento das exportações brasileiras aos EUA, que recebem 60% dos embarques do país.
    A Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) afirma que ainda é cedo para calcular os impactos, mas que vai participar da audiência pública na tentativa de reverter o cenário desenhado pela "proposta inadequada".
    Segundo Leticia Phillips, representante da entidade em Washington, o Brasil está preparado para fornecer aos EUA de 2,5 bilhões a 3 bilhões de litros de etanol em 2014. Mas, se aprovado o corte, os EUA absorveriam até 2,3 bilhões de litros de etanol brasileiro.
    MUDANÇAS
    A alteração reflete mudanças significativas no setor energético americano nos últimos anos. Julio Maria Borges, diretor da Job Economia, lembra que, em meados da década passada, o foco dos EUA era diminuir a dependência da Opep (cartel do petróleo) --e que os biocombustíveis foram a opção.
    Mas a grande aposta do governo --a produção de etanol a partir da celulose-- não avançou como o esperado, e os americanos encontraram dificuldades para cumprir as metas impostas.
    Recorreram, então, ao etanol brasileiro, reduzindo barreiras às importações em 2011, mas continuaram encontrando limitações na oferta.
    "O corte reflete a visão da EPA de que ainda há problemas na disponibilidade de etanol. O desestímulo aos investimentos no Brasil fez com que o país não estivesse em condições de garantir o suprimento", diz Plínio Nastari, presidente da Datagro.
    Ao mesmo tempo, o gás e o petróleo de xisto provocaram uma revolução energética nos EUA, reduzindo o custo da energia no país. Além disso, o consumo de gasolina cai nos EUA, em razão de motores mais eficientes.
    "Os EUA estão se ajustando a uma nova realidade energética", diz Borges.
    Em comunicado divulgado na sexta-feira, a agência americana disse que está tentando resolver um problema conhecido como "barreira de mistura", que ocorre quando a exigência excede a quantidade de etanol que pode ser misturada à gasolina.
    Fonte: Folha, 19.11.2013.

    Cop - 19 : Varsóvia 2013

    Nuvens sobre Varsóvia
    É sob o impacto de más notícias que se inicia hoje, em Varsóvia, a fase decisiva de mais uma reunião sobre a mudança do clima global --a COP-19, ou 19ª conferência dos países signatários da Convenção do Clima da ONU (1992). As delegações ganham o reforço de ministros de Estado, mas é improvável que eles consigam desatar os muitos nós que travam a negociação.
    As tratativas para diminuir a produção de gases do efeito estufa vêm em crise pelo menos desde o fracasso da conferência de Copenhague (2009). Um acordo parece agora mais distante do que nunca, com o anúncio de que Japão e Austrália recuaram de compromissos anteriormente assumidos de cortar suas emissões de carbono.
    A recente crise econômico-financeira sem dúvida contribuiu para tirar prioridade da questão climática no cenário mundial. No caso específico do Japão, somou-se a ela o recuo na geração de eletricidade de fonte nuclear, após o desastre de Fukushima em 2011.
    A outra má notícia partiu do Brasil. Com o repique de 28% na área desmatada na Amazônia, em relação aos 12 meses anteriores, o país vê enfraquecer-se seu maior trunfo nos encontros sobre o clima.
    De 2004 a 2012, a taxa de desmatamento havia caído 84%. O bastante para tirar da floresta a condição de maior contribuidor brasileiro para o aquecimento global e tornar plausível a meta de reduzir entre 36% e 39% as emissões do país até 2020. A queda drástica do desmatamento mais que compensava o aumento de gases do efeito estufa por outros setores nacionais, como energia (21,4%, de 2005 a 2010) e indústria (5,3%).
    Embora os 5.843 km² desmatados entre agosto de 2012 e julho de 2013 suscitem preocupação, estão longe dos recordes de 2004 (27,7 mil km²) e 1995 (29 mil km²). De todo modo, a reversão de sinal na tendência deixa o Brasil em condição menos favorável na negociação.
    É pena, porque o país tem uma boa proposta a defender: que um futuro acordo do clima leve em conta a "responsabilidade histórica" de cada nação sobre o aquecimento global. Vale dizer, que países desenvolvidos, os grandes poluidores do passado, contribuam mais e proporcionalmente para combater a mudança do clima.
    Verdade que a China já se tornou o maior emissor de carbono do planeta, tendo ultrapassado os EUA. Não se conseguirá conter o aumento da poluição sem compromissos do país asiático e de outros emergentes, como Índia e Brasil, mas é uma questão de equidade que as nações ricas contribuam mais no pagamento dessa conta.

    Fonte: Folha, 19.11.13

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    quarta-feira, 13 de novembro de 2013

    Novo Marco Regulatório da Mineração: Relator devolve a mineradora vantagem por fazer pesquisa. Ponto era um dos mais polêmicos em novo Código da Mineração elaborado pelo governo

    DIMMI AMORAJÚLIA BORBADE BRASÍLIA
    O relator do Código de Mineração, deputado Leonardo Quintão (PMDB-MG), reformulou toda proposta encaminhada pelo governo e aceitou, em seu relatório preliminar, várias mudanças no texto sugeridas por empresas.
    A principal mudança apontada pelo setor é a possibilidade de as empresas continuarem realizando estudos e mapeamentos para encontrar áreas de possível extração mineral sem a necessidade de que elas sejam previamente licitadas pelo governo.
    "O texto proposto criava um monopólio dos bens minerais do Brasil. As empresas teriam de aguardar as licitações das áreas para pesquisar", disse Elmer Salomão, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral.
    O relatório preliminar do código, a que a Folha teve acesso, permite a coexistência de duas possibilidades para início das pesquisas.
    A primeira libera empresas que descobrirem o potencial de mineração em alguma região a submeter um pedido de estudo ao governo. Volta a existir, portanto, a chamada prioridade, em que quem apresenta primeiro o pedido fica com direito de pesquisa.
    A segunda mantém a ideia proposta pelo governo em que áreas escolhidas pelo Conselho Nacional de Política Mineral são licitadas.
    O advogado Bruno Feigelson, do Ribeiro Lima Advogados, que acompanhou o processo desde o início, considera que o substitutivo da Câmara é mais próximo do código de mineração antigo, que seria substituído pelo projeto enviado pelo governo.
    Segundo Feigelson, regressar a um texto mais próximo do código anterior era uma tendência natural da comissão, após o projeto feito pelo Planalto ter recebido críticas das empresas e dos Estados mineradores, por seu conteúdo muito estatizante.
    "Na verdade, o que a comissão fez foi compilar de forma mais democrática as práticas do setor no mundo inteiro."
    Segundo ele, o novo código proposto pelo governo era mais intervencionista por tentar copiar o modelo do setor de petróleo (em que é o Estado quem faz a pesquisa e põe a área em licitação).
    As mudanças devolveram às empresas privadas a possibilidade de serem premiadas pelo risco de fazer a pesquisa.
      Fonte: Folha, 13.11.13.

    terça-feira, 12 de novembro de 2013

    Japão investe em estação eólica em alto-mar: Desastre nuclear impulsionou setor de energia alternativa

    LARGO DA COSTA DE FUKUSHIMA, Japão - Em alto-mar, a 20 quilômetros dos reatores nucleares danificados de Fukushima, uma gigantesca turbina eólica flutuante sinaliza o início da mais ambiciosa aposta em energia limpa já feita pelo Japão.
    Esse moinho de vento com cem metros de altura começa a funcionar neste mês, com a expectativa de gerar energia suficiente para abastecer 1.700 casas. Mas a meta é alcançar até 2020 a geração de um gigawatt de eletricidade com 140 turbinas eólicas. Isso é o equivalente à energia gerada por um reator nuclear.
    O Japão foi forçado a olhar mais seriamente para a energia renovável depois dos vários problemas, causados pelo terremoto e pelo tsunami de 2011 em Fukushima, em núcleos de reatores nucleares. Os 50 reatores japoneses estão fechados atualmente, aguardando inspeções.
    Os partidários do projeto eólico dizem que os moinhos de vento em alto-mar podem ser um avanço importante para esta nação energeticamente pobre.
    Eles permitiriam que o Japão usasse um recurso que possui em abundância: seu litoral, que é mais longo do que o norte-americano.
    O projeto é também uma tentativa de assumir a iniciativa em um setor que deve dobrar de tamanho nos próximos cinco anos, chegando a uma capacidade global de 536 gigawatts, segundo a entidade setorial Conselho Global da Energia Eólica.
    "É a maior esperança do Japão", disse Hideo Imamura, porta-voz da empresa Shimizu. "É um esforço totalmente japonês, quase 100% feito no Japão."
    O que diferencia o projeto de outras fazendas eólicas em alto-mar no resto do mundo é que suas turbinas, assim como sua subestação e seus transformadores elétricos, flutuam sobre plataformas gigantes ancoradas em alto-mar. A tecnologia amplia enormemente as possíveis localizações de fazendas eólicas em alto-mar.
    O domínio do vento em águas profundas na costa japonesa pode gerar até 1.570 gigawatts de eletricidade, cerca de oito vezes a atual capacidade instalada de todas as companhias elétricas japonesas juntas, segundo simulações por computador feitas na Universidade de Tóquio.
    Mas Paul Scalise, também da Universidade de Tóquio, disse que as previsões precisariam ser ajustadas levando em conta a taxa de utilização, as perturbações para as rotas marítimas e a oposição de pescadores.
    Ele estima que a geração eólica potencial nos mares japoneses seja bem menor.
    "Não devemos nos esquecer do óbvio confronto com a realidade", disse ele. "Quanto mais longe da costa eles colocarem essas fazendas eólicas flutuantes, mais cara se torna a sua construção e a transmissão da energia para o Japão."
    Nove décimos da capacidade japonesa para a geração de energia limpa vêm da energia eólica, segundo o Ministério do Ambiente. Noruega e Portugal também estão testando fazendas eólicas flutuantes de pequena escala, mas o projeto japonês deve ser o maior de todos.
    A maior contestação ao projeto de Fukushima vem dos pescadores locais, que não podem trabalhar desde o desastre de 2011 e temem que o projeto os prive de áreas de pesca. O custo é outra grande questão. A construção das três primeiras turbinas sai por cerca de US$ 20 mil por quilowatt, cerca de oito vezes o custo de construir uma turbina em terra.
    A durabilidade é o terceiro grande ponto de interrogação. A construtora Shimizu diz que as lâminas da turbina foram projetadas para durar pelo menos duas décadas. Mas Imamura, da Shimizu, admite que ninguém tem certeza de quanto tempo -e em que condições- as turbinas vão durar.
    Mas as possíveis recompensas animam os executivos. Yasuhiro Sato, diretor do Mizuho Financial Group, disse neste ano a uma comissão governamental que as cerca de 20 mil peças usadas nas turbinas eólicas em alto-mar podem agregar bilhões de ienes à economia japonesa.

    China enfrenta impacto da exploração de terras-raras (Magnetismo)

    TIANJIN, China - No norte da China, perto da fronteira com a Mongólia, vazamentos contaminados com a radioatividade de duas décadas de refino dos metais conhecidos como terras-raras vêm escorrendo lentamente para o subsolo, em direção ao rio Amarelo, uma fonte de água vital para 150 milhões de pessoas.
    Na província de Jiangxi, no centro-sul da China, o governo assumiu o controle da mineração de terras-raras, depois de descobrir o garimpo ilegal disseminado desses metais. Na província de Guangdong, no sudeste, os reguladores estão lutando para reparar campos e rios destruídos pelos ácidos poderosos das minas a céu aberto.
    Recentemente, o impacto ambiental dessa atividade virou uma questão comercial internacional, e a China passou a gastar bilhões de dólares para limpar os danos da exploração de terras-raras.
    Um painel da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra emitiu um esboço de relatório contra as restrições de exportação dos minerais pela China. A decisão final na próxima primavera, depois de uma provável apelação, talvez não faça uma grande diferença para a indústria de terras-raras, mas o caso parece ter tido o efeito inesperado de ajudar a China a empreender uma grande limpeza.
    Maior produtor mundial de metais de terras-raras, a China impôs tarifas e limites de tonelagem anuais para as exportações desses produtos há sete anos. Então gradualmente aumentou os impostos e diminuiu os limites de tonelagem nos anos posteriores, lentamente reduzindo o suprimento para fabricantes no exterior.
    A China alega que essas restrições de exportação são necessárias para proteger seu meio ambiente. Os EUA, a União Europeia e o Japão contestaram os impostos e as cotas da China na Organização Mundial do Comércio.
    O caso das terras-raras "será um marco em termos de restrições de exportação e meio ambiente", disse James Bacchus, ex-presidente do tribunal de apelações da OMC em Genebra.
    A China disponibiliza amplos suprimentos de terras-raras para fabricantes no próprio país, que com elas produzem componentes cruciais para uma série de produtos, como notebooks, lâmpadas fluorescentes compactas, turbinas de vento e carros elétricos. Algumas empresas ocidentais e japonesas mudaram suas fábricas para a China para garantir o acesso a esses metais.
    As restrições chinesas à exportação se tornaram menos importantes nos últimos anos. Minas alternativas entraram em produção nos EUA e na Austrália, reduzindo a parcela chinesa da produção global para 85%, contra 95% três anos atrás. As companhias também ficaram muito mais eficientes na economia das terras-raras, especialmente das mais caras.
    A mudança é visível no estoque de suprimentos de Tianjin, em uma das poucas fábricas mundiais que produzem pós de terras-raras para uso em ímãs muito poderosos. Seja em smartphones ou em mísseis, as aplicações mais avançadas para as terras-raras incluem a fabricação de componentes cruciais que usam as poderosas qualidades magnéticas desses minérios.
    As autoridades chinesas negam que suas novas preocupações com as consequências ambientais da mineração e do refino de terras-raras sejam conduzidas pelo desejo de evitar a derrota na OMC.
    As refinarias mais prejudiciais são as que rompem os laços químicos que ligam as terras-raras a minérios que também possuem materiais perigosos, notadamente o tório radioativo. Muitas toneladas de ácido sulfúrico extremamente concentrado são usadas para romper as ligações químicas. Então os valiosos metais de terras-raras, que não são radioativos, podem ser purificados.
    Mas isso deixa para trás uma perigosa mistura de substâncias tóxicas e lixo radioativo de baixo nível. Grande parte desses dejetos é despejada no maior lago de mina do mundo, perto de Baotou.
    O lago não tem revestimento para evitar o vazamento de dejetos radioativos e toxinas para o lençol freático, de onde seguem para o rio Amarelo. Empresas estatais desmontaram as refinarias de Baotou e as reconstruíram em um enorme complexo de mineração em Bayan Obo, no deserto de Gobi, que extrai cerca de metade das terras-raras do mundo.
    Muitos observadores acreditam que a China perderá o caso na OMC e terá de remover suas cotas e tarifas de exportação. Mas essas mudanças poderão não fazer grande diferença, porque a China passou os últimos anos forçando fusões, de modo que 99% das terras-raras mineradas legalmente no país são produzidas por apenas dez companhias. Porém, se elas forçarem os preços rápido demais, poderão enfrentar a concorrência de empresas nos EUA e na Austrália.
    As forças de mercado poderão ter um efeito maior sobre a capacidade da China de controlar o mercado do que as restrições à exportação, disse Dudley Kingsnorth, analista na Austrália.
    "Se isso fosse decidido cinco anos atrás, poderia ter causado algum impacto", disse ele.
    Por KEITH BRADSHER
    Fonte: NYT,12.11.13.


    Madeireiras ilegais faturam com a corrupção no Peru

    PUCALLPA, Peru - Temendo que a polícia avisasse os suspeitos, o promotor Francisco Berrospi não avisou aos agentes locais que sairia para a floresta numa investigação sobre a extração ilegal de madeira. Mas às vezes isso parecia quase não ter importância.
    Mesmo quando ele conseguia apreender caminhões, serras elétricas e toras recolhidas ilegalmente, os juízes costumavam obrigá-lo a devolver o material, segundo Berrospi. Os subornos eram tão comuns, disse ele, que um funcionário encarregado do combate à corrupção o estimulou abertamente a aceitá-los.
    Mais de metade do Peru é coberta por uma densa floresta, incluindo um grande pedaço da bacia amazônica. Sua preservação é considerada crucial para o combate ao aquecimento global e para a proteção de muitas espécies de plantas e animais.
    Nos últimos anos, o Peru aprovou leis para combater a extração ilegal de madeira, conforme exigia um acordo comercial com os Estados Unidos. Mas a madeira continua a sair do país, e grande parte dela vai parar nos EUA.
    O Banco Mundial estima que até 80% da madeira exportada pelo Peru seja extraída ilegalmente. Autoridades dizem que o material geralmente é embarcado com documentos falsificados, dando a impressão de que se trata de uma transação legal. É um padrão já visto em outras partes do mundo, incluindo a Rússia, onde ambientalistas documentaram a extração ilegal de carvalhos e outros tipos de madeira.
    Aqui em Pucallpa, no coração do setor madeireiro peruano, às margens de um afluente do Amazonas, a orla fluvial está dominada por serrarias abastecidas com pilhas de toras. Elas chegam flutuando, puxadas por pequenos barcos a motor desde remotos acampamentos de madeireiros, enquanto caminhões cheios de toras e tábuas congestionam as estradas.
    Um oficial militar alocado aqui para patrulhar o rio Ucayali disse que praticamente já parou de fiscalizar a madeira que chega por via fluvial. No passado, contou, ele costumava determinar a apreensão de madeiras que não tinham a papelada necessária, mas logo ficava sabendo que as autoridades florestais liberavam o material, aparentemente após criarem ou aprovarem uma documentação falsa.
    Em alguns casos, relatou, cargas de mogno, madeira valiosa hoje só encontrada nas áreas mais remotas, recebiam uma documentação falsa, identificando-as como outro tipo de madeira. "É incontrolável", disse o oficial, que não estava autorizado a falar publicamente. Referindo-se às autoridades florestais locais, ele disse: "Os chefes dão empregos às pessoas de sua confiança e aí pegam uma parte dos subornos que elas recebem".
    Lucila Pautrat, diretora da ONG Sociedade Peruana de Ecodesenvolvimento, disse que, apesar das novas leis e da regra prevista no acordo comercial, o governo não consegue combater a corrupção.
    A pressão pela extração de madeira na selva peruana cresceu nos últimos anos, uma vez que o vizinho Brasil intensificou os seus esforços para limitar a extração ilegal de madeiras, segundo Pautrat.
    Berrospi, 45, disse que as autoridades em Lima têm pouca noção dos obstáculos que os promotores ambientais peruanos -são cerca de 80- enfrentam. A maioria das investigações, segundo ele, exige viagens a áreas remotas, mas seu departamento não tem barco nem helicóptero para chegar a acampamentos de madeireiros inacessíveis por estrada.
    O promotor contou que, certa vez, apreendeu toras que ele suspeitava serem parte de um grupo de cerca de 70 árvores derrubadas ilegalmente, mas que uma juíza determinou a devolução do material ao madeireiro. "Sabe o que a juíza me disse? Ela disse: 'Como vou colocar uma pessoa na cadeia por 70 torinhas se posso ver milhares de árvores crescendo aqui?'"
    No final de maio, Berrospi apreendeu dois tratores e três caminhões. Mas os órgãos públicos locais se recusaram a ajudá-lo na busca por um lugar para guardar o maquinário e, por isso, ele precisou devolvê-lo. Aí, contou, as autoridades florestais locais restauraram o alvará da madeireira, que havia sido suspenso.
    Ele foi afastado do seu cargo em agosto, no que Antonio Fernández Jerí, chefe da promotoria ambiental em Lima, disse ter sido uma realocação de pessoal por "razões internas". Fernández afirmou que Berrospi vinha fazendo um bom trabalho e que não houve acusações de irregularidade contra ele.
    Uma investigação que Berrospi deixou inconclusa envolvia a remota aldeia Saweto, dos índios ashaninka. Edwin Chota, morador que seguiu uma grande carga de toras transportada pelo rio a partir da aldeia, disse que os obstáculos à fiscalização das leis ambientais parecem intransponíveis. "Não há lei", disse Chota durante uma visita à serraria que recebeu as madeiras que ele seguiu desde a sua aldeia. "Não há dinheiro para investigar. Só há dinheiro para destruir."
    Por WILLIAM NEUMAN e ANDREA ZARATE
    Fonte: NYT, 12.11.2013;

    Quem paga o preço da mineração no Brasil? - Mídia Ninja

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    COP- 19 - Varsóvia 2013 - Aplicativo da ONU afirma que mudança climática é "natural"

    Texto causou protestos de ONGs no primeiro dia de conferência
    GIULIANA MIRANDAENVIADA ESPECIAL A VARSÓVIA
    O aplicativo de celular oficial da COP-19, conferência do clima da ONU que teve início ontem em Varsóvia. afirma na apresentação: "mudanças climáticas são fenômenos naturais que já ocorreram muitas vezes na Terra".
    A mensagem fez com que o encontro já começasse com os ânimos acirrados entre ambientalistas e a liderança polonesa do evento.
    Segundo as ONGs que participam do encontro, a frase dá margem para dúvidas sobre o aquecimento global e pode ser fruto das relações do governo polonês com a indústria do carvão. Altamente poluidor, o carvão é responde por mais de 70% da energia usada com fins de aquecimento na Polônia.
    "Se é natural, então para que se preocupar?", criticou a Climate Action Network, que agrega algumas das principais ONGs ambientais.
    A origem do aplicativo e da frase ainda é obscura. Procurada pela Folha, a COP não se manifestou. Ao iniciar o software, no entanto, vê-se o logo do Ministério do Meio Ambiente polonês.
    POLÊMICA
    A relação polonesa com a indústria do carvão já causava protestos. O maior alvo é o presidente da conferência e ministro do Meio Ambiente da Polônia, Marcin Korolec.
    Desde que assumiu o posto, ele ficou conhecido por medidas polêmicas, especialmente por dificultar a ampliação das metas de redução de emissões de gases-estufa na União Europeia até 2020.
    A gota d'água na azeda relação com os ambientalistas veio com a realização de um evento descrito como "o mais importante do ano para a indústria do carvão" em paralelo às negociações da COP.
    Christiana Figueres, secretária-executiva da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, será uma das palestrantes do encontro da indústria, o que gerou novos protestos.
    Na opinião de André Nahur, coordenador interino de mudanças climáticas e energia do WWF-Brasil, o governo polonês tem se esquivado do nos debates sobre medidas para reduzir emissões de gases-estufa.
    "Eles têm promovido o carvão verde, anunciado como uma segunda geração de carvão mais limpa, usando isso para não compensar todas as suas emissões", criticou.
    Korolec não mostrou preocupação com as críticas, mas repetiu o discurso sobre a importância de agir conjuntamente para resolver problemas climáticos, incluindo a indústria carvoeira.

    terça-feira, 5 de novembro de 2013

    Cristina Kirchner se alia à Chevron para exploração de xisto

    Governo enfrenta oposição de índios e ambientalistas
    Por SIMON ROMERO e CLIFFORD KRAUSS
    NEUQUÉN, Argentina - Nas estepes patagãs varridas pelo vento, operários perfuram em tempo integral aquele que pode ser o próximo grande campo petrolífero do mundo. A Argentina, que há anos trata com desconfiança os investidores estrangeiros, formou uma improvável aliança com a gigante americana Chevron para explorar o campo de Vaca Muerta.
    A presidente Cristina Kirchner tem demonstrado -apesar das dúvidas sobre sua saúde, após uma cirurgia neste mês- que está disposta a dar as costas às suas políticas econômicas dos últimos anos, levando adiante a parceria com a Chevron.
    Seus críticos e até alguns apoiadores estão furiosos, por causa do longo conflito judicial dessa empresa com o Equador por causa da poluição na Amazônia. Outras batalhas judiciais em curso dizem respeito à nacionalização da maior empresa petrolífera da Argentina.
    Além disso, os protestos contra o fraturamento hidráulico -a injeção de água e substâncias químicas a alta pressão para extrair gás e petróleo em campos de xisto- aqui no deserto da Patagônia se tornaram ferozes, e a polícia chegou a usar gás lacrimogêneo e balas de borracha contra milhares de manifestantes.
    A adesão de Cristina à Chevron revela até onde alguns governos, desesperados por dinheiro, e as companhias energéticas estão dispostos a ir para copiar a revolução do petróleo de xisto nos Estados Unidos. Poucos campos oferecem as mesmas riquezas potenciais que o de Vaca Muerta, com reservas quase iguais às reservas totais da gigante petrolífera Exxon Mobil. "Não há nada nem parecido com isto no mundo", disse Ali Moshiri, presidente de Exploração e Produção na África e América Latina da Chevron, referindo-se a Vaca Muerta. "No nosso negócio, o risco é parte da equação."
    A Administração de Informação Energética dos Estados Unidos coloca a Argentina em quarto lugar, atrás da Rússia, EUA e China, com reservas tecnicamente recuperáveis de 27 bilhões de barris de petróleo de xisto. E coloca a Argentina em segundo lugar, atrás da China, em termos de reservas recuperáveis de gás de xisto, com estimados 2,2 trilhões de metros cúbicos.
    Mas a oposição de ambientalistas e índios mapuches continua feroz. "Esta é a pior forma de extrair petróleo e pela companhia com o pior histórico", disse Enrique Viale, presidente da Associação Argentina de Advogados Ambientais.
    Há um ano, a Chevron formou uma parceria preliminar com a YPF, companhia petrolífera argentina controlada pelo governo, para ajudar a desenvolver Vaca Muerta. O empreendimento pode perfurar outros 1.500 poços até 2017, exigindo mais de US$ 17 bilhões em investimentos. Isso poderia elevar a produção a 50 mil barris de petróleo e 3 milhões de metros cúbicos de gás por dia durante 35 anos.
    Poucas empresas tiveram coragem de apostar tão alto desde que a Argentina declarou a moratória da sua dívida soberana de mais de US$ 81 bilhões, em 2001. Cristina renacionalizou a YPF no ano passado e ainda não pagou nenhuma compensação financeira à companhia petrolífera espanhola Repsol por sua participação majoritária, que a Repsol diz valer US$ 10,5 bilhões.
    Apontando para esses desafios, Miguel Galuccio, executivo-chefe da YPF, insistiu numa entrevista que o futuro da economia argentina depende da capacidade da YPF de desenvolver os recursos nacionais de petróleo de xisto.
    Galuccio contratou respeitados gestores e engenheiros de petróleo, muitos deles argentinos radicados no exterior, para ocupar os altos escalões da YPF. Ele começou a reverter o declínio na produção da YPF, reposicionando a empresa de modo a focá-la no fraturamento hídrico em Neuquén.
    Diante de uma potencial crise financeira, o governo argentino alterou nos últimos meses os rumos da sua política energética, como já havia feito com frequência anteriormente. Numa decisão voltada especialmente para a Chevron, Cristina emitiu um decreto permitindo que as empresas de petróleo e gás vendam 20% da sua produção ao exterior sem pagar impostos de exportação nem ter a obrigação de repatriar os lucros -desde que invistam mais de US$ 1 bilhão no país.
    As autoridades petrolíferas argentinas dizem que o acordo entre a Chevron e a YPF irá blindar a companhia americana contra prejuízos financeiros ligados a uma mudança no cenário político. Depois que a empresa investir US$ 1,2 bilhão, 18 meses depois ela poderá abandonar suas operações sem penalidades e continuará recebendo perpetuamente os lucros líquidos de 50% da produção dos poços iniciais.
    Lefxaru Nahuel, 26, mapuche da Patagônia, disse que irá continuar liderando protestos. "Vamos continuar nossa luta para defender a terra, a água e o ar", disse ele. "Com o fraturamento, não há futuro para nós aqui."
    Colaborou Jonathan Gilbert, de Buenos Aires
    Fonte: NYT, 05.11.2013