terça-feira, 19 de novembro de 2013

Recuo dos EUA deve afetar venda de etanol: Um dos efeitos reflexos do gás de xisto

Governo americano propõe reduzir taxa de mistura do biocombustível à gasolina e ameaça exportações brasileiras
Avanço lento do etanol celulósico e oferta limitada brasileira são motivos para abandono de meta criada em 2007
TATIANA FREITASDE SÃO PAULOJOANA CUNHADE NOVA YORK
Principal produtor e consumidor de etanol do mundo, os EUA deram um passo atrás no plano de expandir a presença do biocombustível em sua matriz energética, o que deve limitar as exportações brasileiras do produto.
De acordo com a legislação estabelecida em 2007, as refinarias deveriam misturar 68,7 bilhões de litros de combustíveis renováveis à gasolina em 2014, o que representaria mais de 10% do volume abastecido pelos motoristas.
Na sexta-feira, seis anos após a publicação da lei, a EPA (agência de proteção ambiental) propôs uma redução de 16% nesse volume.
O corte nas metas para a mistura foi mais significativo entre os biocombustíveis avançados --que incluem o etanol de cana--, cuja exigência cairia de 14,2 bilhões de litros para 8,3 bilhões.
Neste ano, para cumprir a meta de mistura de 10 bilhões de litros, os americanos devem importar cerca de 2 bilhões de litros do Brasil.
A proposta, que ainda precisa passar por audiência pública durante 60 dias, limita o potencial de crescimento das exportações brasileiras aos EUA, que recebem 60% dos embarques do país.
A Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) afirma que ainda é cedo para calcular os impactos, mas que vai participar da audiência pública na tentativa de reverter o cenário desenhado pela "proposta inadequada".
Segundo Leticia Phillips, representante da entidade em Washington, o Brasil está preparado para fornecer aos EUA de 2,5 bilhões a 3 bilhões de litros de etanol em 2014. Mas, se aprovado o corte, os EUA absorveriam até 2,3 bilhões de litros de etanol brasileiro.
MUDANÇAS
A alteração reflete mudanças significativas no setor energético americano nos últimos anos. Julio Maria Borges, diretor da Job Economia, lembra que, em meados da década passada, o foco dos EUA era diminuir a dependência da Opep (cartel do petróleo) --e que os biocombustíveis foram a opção.
Mas a grande aposta do governo --a produção de etanol a partir da celulose-- não avançou como o esperado, e os americanos encontraram dificuldades para cumprir as metas impostas.
Recorreram, então, ao etanol brasileiro, reduzindo barreiras às importações em 2011, mas continuaram encontrando limitações na oferta.
"O corte reflete a visão da EPA de que ainda há problemas na disponibilidade de etanol. O desestímulo aos investimentos no Brasil fez com que o país não estivesse em condições de garantir o suprimento", diz Plínio Nastari, presidente da Datagro.
Ao mesmo tempo, o gás e o petróleo de xisto provocaram uma revolução energética nos EUA, reduzindo o custo da energia no país. Além disso, o consumo de gasolina cai nos EUA, em razão de motores mais eficientes.
"Os EUA estão se ajustando a uma nova realidade energética", diz Borges.
Em comunicado divulgado na sexta-feira, a agência americana disse que está tentando resolver um problema conhecido como "barreira de mistura", que ocorre quando a exigência excede a quantidade de etanol que pode ser misturada à gasolina.
Fonte: Folha, 19.11.2013.

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