quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cartel do petróleo busca saída para conter queda da cotação


Grupo se reúne na Áustria para definir se diminui produção

DO "FINANCIAL TIMES"
Às vésperas da reunião da Opep (cartel que reúne grandes produtores mundiais de petróleo), a Arábia Saudita, principal membro do grupo, disse que os países do golfo Pérsico "chegaram a um consenso" sobre os rumos da produção do combustível.
O ministro saudita Ali al-Naimi não disse, no entanto, se o país, o Kuait, os Emirados Árabes Unidos e o Qatar vão defender na reunião desta quinta (27) e sexta-feira (28) um corte na produção do cartel ou se vão mantê-la nos patamares atuais.
A reunião da Opep, em Viena (Áustria), é uma das mais aguardadas desde as realizadas na época da crise financeira global, em 2008, quando o preço do barril chegou a bater seu recorde, US$ 145, em julho, e terminou o ano na casa dos US$ 30.
Desde junho, o preço do barril tipo Brent (negociado em Londres) já recuou 30% e está sendo negociado por cerca de US$ 75, reflexo do aumento da produção por parte dos EUA e a consequente queda nas importações americanas de petróleo.
"Vamos lembrar que a Opep não está sozinha na produção. A produção americana [de petróleo de xisto] começou humilde e agora é um grande integrante do fornecimento global", afirmou Suhail Al Mazrouei, ministro do Petróleo dos Emirados Árabes Unidos.
O ministro minimizou a importância da reunião desta semana do cartel. "Eu acho que não devemos entrar em pânico. Não existe nada que nos leve a isso. Sim, há um excesso de oferta, mas este não é um problema da Opep. O mercado vai consertá-lo."
Ele não disse qual a posição que o cartel deverá tomar no encontro em Viena. Afirmou, no entanto, que a reunião será "um teste" sobre se um consenso pode ser obtido pelo grupo formado por 12 países --entre eles, Venezuela e Equador
Folha, 27.11.2014.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Na 'Science', cientistas pedem cautela com mineração no país

DE SÃO PAULO - 07/11/2014  02h00

A política de expansão de hidrelétricas e mineradoras no país ameaça unidades de conservação ambiental, diz um artigo assinado por 16 cientistas brasileiros e europeus. Em análise na revista "Science", os pesquisadores pedem cuidado ao governo em implementar novas leis.
Segundo o grupo, desde 2008, o Brasil perdeu mais de 44 mil km² de unidades de conservação, canceladas ou reduzidas, e há mais 21 mil km² ameaçados por projetos de lei no Congresso. Juntas, as áreas somariam uma redução de 3% nas áreas de proteção em biomas brasileiros.
O principal alvo dos cientistas é o PL 3682/2012, que determina a abertura de 10% do território das áreas de proteção exclusiva a concessões de mineradoras, e proibiria a criação de novas unidades de conservação em terras com concentração de minérios ou alto potencial hidrelétrico.
"Pedimos ao governo eleito do Brasil a garantia de que iniciativas de desenvolvimento sejam individualmente submetidas a análises de custo-benefício abrangentes, socialmente inclusivas e de longo prazo", escrevem os cientistas de dez centros de pesquisa brasileiros, um sueco e três britânicos, liderados por Joice Ferreira, da Embrapa.
"Ao menos 20% de todas as áreas de proteção exclusiva e terras indígenas se sobrepõem a áreas consideradas para mineração", diz o grupo, que vê risco de retrocessos nos direitos fundiários de comunidades tradicionais.
"Não é que o desenvolvimento do Brasil não deva se beneficiar de seus abundantes recursos naturais", diz Ferreira, em nota à imprensa. "Mas é possível gerenciar nosso desenvolvimento de maneira mais sustentável."  Folha

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Contra crise, Venezuela abre setor petrolífero

Acordos dão mais controle a parceiros estrangeiros

Por WILLIAM NEUMAN
MENE GRANDE, Venezuela - Em uma colina da qual se avista esta cidade abafada, em um pequeno poço pintado de amarelo, azul e vermelho, as cores nacionais, uma bomba se movimenta para cima e para baixo.
Aqui, o petróleo bruto flui pelos dutos do mesmo modo como acontecia há cem anos, quando este se tornou o primeiro poço bem-sucedido do país, abrindo caminho para que a Venezuela, então um sonolento grotão de cafeicultores e pecuaristas, se tornasse um dos países mais ricos em petróleo.
Hoje, a pouca distância deste histórico poço petrolífero chamado Zumaque 1, as ruas permanecem sem asfalto, e as pessoas vivem em casebres feitos com chapas de metal ondulado. Mesmo após mais de um século de petróleo sendo bombeado, o produto ainda está tão próximo da superfície que chega a jorrar do chão nesta cidade, numa negra e pegajosa lembrança da riqueza em meio à pobreza.
"Olhe para as riquezas da Venezuela", disse o operário Ramón Materán, 64, apontando para o petróleo bruto que escorre e se espalha pelo chão do seu bairro, chamado Baralt 1. Então, olhando ao redor para as ruas esburacadas e os barracos sem saneamento, ele disse: "Apesar de todas as riquezas da Venezuela, as coisas estão bastante abandonadas aqui".
A economia da Venezuela enfrenta dificuldades, e o mesmo ocorre com seu monopólio petrolífero administrado pelo governo, a Petróleos de Venezuela, ou PDVSA. A empresa precisou recorrer ao Banco Central para obter milhões de dólares em empréstimos. Já cogitou vender sua subsidiária americana, a rede de postos Citgo, e estuda elevar o preço da gasolina na Venezuela, que tem o combustível mais barato do mundo.
Essas mudanças vêm sendo feitas sem estardalhaço, gerando suspeitas de que o presidente Nicolás Maduro, no cargo há menos de um ano e meio, teria receio de que seus partidários as vejam como uma traição às medidas de expropriação dos interesses petrolíferos estrangeiros adotadas pelo presidente Hugo Chávez, morto em 2013.
Na esperança de aumentar o investimento e dar um salto na estagnada produção, a PDVSA assinou ou está negociando acordos financeiros com numerosas companhias petrolíferas estrangeiras que operam aqui. Esses acordos dão às empresas maior poder sobre as operações de extração e a compra de materiais e equipamentos, bem como maior controle sobre gastos e lucros, de acordo com pessoas familiarizadas com eles.
Estrangeiros não precisam mais agir por intermédio de subsidiárias controladas pela PDVSA, fonte frequente de atrasos e corrupção.
"Se a PDVSA de antigamente tivesse assinado algo assim, os chavistas a teriam acusado de traição", disse Francisco Monaldi, professor de política energética da Escola de Governo Kennedy, da Universidade Harvard.
"Esses contratos são assinados por necessidade", disse Carlos Bellorin, analista sênior da consultoria IHS Energy, de Londres. "Eles não têm fluxo de caixa suficiente para investir na exploração e produção ou para elevar a produção dos projetos existentes."
Embora as empresas petrolíferas continuem como parceiras minoritárias da PDVSA, os novos acordos lhes conferem um poder muito maior do que nos últimos anos quanto ao gerenciamento dos campos petrolíferos da Venezuela. O país tem as maiores reservas estimadas do mundo, e o petróleo representa mais de 95% da sua renda com exportações.
Mene Grande, com uma população de cerca de 21 mil pessoas, é onde teve início a era petrolífera no país. Em 1914, o Zumaque 1 -nome em espanhol da árvore sumagre, que crescia nos arredores- se tornou o primeiro poço bem-sucedido do país. Roberto Morón, 40, sócio em uma loja de material de construção, disse que Mene Grande deveria ter recebido mais do petróleo extraído de seu solo.
"As coisas aqui deveriam estar bem melhores", afirmou. "Há muitos poços aqui. Mene Grande dá, dá e não recebe nada em troca."NYT, 11.11.2014.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Passivo elétrico

Não é só a obra colossal da hidrelétrica de Belo Monte (PA) que se acha em atraso e, assim, ajuda a adensar a nuvem de incertezas sobre a geração de energia nos próximos anos. Ao menos outras quatro usinas menores seguem pelo mesmo caminho acidentado, a praxe no país do planejamento capenga.

Belo Monte acrescentará 11.233 megawatts (MW) nominais ao parque hidrelétrico nacional. Mesmo que se considere apenas seu fornecimento garantido (4.571 MW), a controversa usina agregará sozinha quase toda a eletricidade adicional de que o país precisa, a cada ano, para sustentar sua economia.
O prazo previsto para acionar a última turbina era 2019. A primeira delas deveria rodar já no começo de 2015, mas isso só deve acontecer um ano depois.
A concessionária Norte Energia alegou atrasos no licenciamento ambiental e interrupções imprevistas. Reivindica que se reconheçam tais intercorrências como excludentes de responsabilidade, o que desobrigaria o empreendedor de pagar pelo que deixa de entregar.
Reportagem desta quarta-feira (22) no diário "Valor Econômico", contudo, indica que os "suspeitos de sempre" --greves e questionamentos na Justiça a impactos sociais e ambientais-- afetam também o andamento de projetos menores e distantes da Amazônia. Nos quatro casos indicados, está em causa um total de 830 MW.
O exemplo mais gritante é o da hidrelétrica Baixo Iguaçu, no rio de mesmo nome no Paraná. As obras da usina de 350 MW foram sustadas há mais de quatro meses, por força de uma liminar da Justiça federal que cassou a licença ambiental de instalação do projeto.
Quase todos os trabalhadores do canteiro foram dispensados. Não se sabe quando a construção será reiniciada. Até a Unesco se envolveu, por considerar que está sob ameaça a condição de patrimônio da humanidade conferida ao Parque Nacional do Iguaçu.
Os outros três casos são os das usinas Colíder (MT), Salto Apiacás (MT) e São Roque (SC). Na Amazônia, também está atrasado o cronograma das hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, respectivamente 63 e 239 dias.
O padrão, portanto, se repete em toda parte. Os prazos de construção e operação das usinas desconsideram, ao que parece, o histórico de atrasos inerentes ao arcabouço regulatório do país.
Não fosse o crescimento medíocre da economia, esse planejamento deficitário acabaria por levar o país ao limiar de novos apagões. Folha, 23.10.2014.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

"Brasil deixou pré-sal pouco competitivo", diz especialista



RAUL JUSTE LORES - DE WASHINGTON - 22/10/2014  02h01


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A Petrobras deixou o pré-sal "pouco competitivo" e está "sobrecarregada" com atribuições demais, afirma o consultor em energia David Goldwyn, que foi o enviado especial do Departamento de Estado americano para negociações em energia durante a gestão de Hillary Clinton (2009-2013).
Desde que o Brasil descobriu suas reservas, "México e o Noroeste da África descobriram as suas e estão usando modelos de exploração mais competitivos, onde o retorno dos investimentos será maior", diz.
Para Goldwyn, que dirige o Grupo Consultor em Energia do Atlantic Council, um respeitado centro de estudos, o preço do petróleo continua a cair, mesmo com a tensão no Oriente Médio por causa de demanda estagnada e de um aumento enorme da produção, especialmente nos EUA –o país caminha a ser o maior produtor mundial de petróleo. Ele recebeu a Folha em seu escritório, em Washington.
Petrobras/Bloomberg
Funcionário caminha pela plataforma da Petrobras no campo Jubarte, no Espírito Santo
Funcionário caminha pela plataforma da Petrobras no campo Jubarte, no Espírito Santo
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Folha - A Petrobras perdeu muito valor de mercado, e o leilão do pré-sal atraiu poucos concorrentes internacionais, com exceção dos chineses. O que aconteceu?
David Goldwyn - O desafio do pré-sal é ser competitivo. Ao mudar o regime fiscal, exigir muito conteúdo local e mudar as regras de operação, o Brasil deixou essa exploração muito mais cara que a exploração no México ou no noroeste da África. Os leilões do pré-sal foram decepcionantes. As empresas que queriam ir para o Brasil e que estavam interessadas agora estão olhando oportunidades em outros países.

O preço do petróleo tem caído. O pré-sal corre o risco de ficar pouco competitivo?
A obrigação de se usar muito conteúdo local aumenta muito os custos dos investimentos. A obrigação da Petrobras operar, além de ser um enorme peso administrativo para a Petrobras, prejudica a capacidade das empresas estrangeiras de gerenciarem os custos. Tudo isso atrasa prazos e tempo é dinheiro.

Tudo isso coloca o petróleo do pré-sal na curva mais alta do preço do petróleo. Quanto mais elevado o preço para produzir, mais dificuldade os projetos terão para competir com o resto do mundo. O Brasil criou um ambiente menos competitivo para o pré-sal.
Não sou otimista quanto a novos investimentos. O México está entrando no negócio do petróleo em águas profundas, com menos conteúdo nacional, estrangeiros operando, mais concorrência. O preço será melhor.
Mas, a longo prazo, o preço do barril do petróleo deve estar acima dos US$ 100 e um preço acima de US$ 80, US$ 90 deixa o petróleo do pré-sal viável. Há demanda para esse petróleo.



A China será a salvadora do pré-sal?
O Brasil parece confortável com investidores passivos que confiam totalmente na Petrobras. Nas mãos dos chineses ou de fundos soberanos, que enfrentam menos obstáculos do que empresas de capital aberto [que estão em Bolsa]. Mas, agindo assim, o Brasil renuncia a receber inovação que só vem da concorrência com operadores estrangeiros.

O que dirigiu o milagre do petróleo no Brasil foi abrir o offshore para investidores estrangeiros. A Petrobras aprendeu muito, ela não inventou a tecnologia para explorar águas profundas. Ultimamente o Brasil fechou essa abertura com suas novas políticas.
Como observador de fora, porém, admito que o Brasil impressiona pela sua flexibilidade. Vocês mudam de decisões, de curso, rapidamente, se adaptam rápido. Os EUA não são tão ágeis. Às vezes demoramos 40 anos para mudar uma política errada.

Qual a percepção internacional da Petrobras?
Uma vez perguntei a um alto funcionário do governo do Brasil se essa estratégia na Petrobras era para preservar as reservas ou promover desenvolvimento imediato e crescente, e ele me disse que era a segunda opção. Mas parece o oposto. A Petrobras está sobrecarregada.

Por quê?
Empresas eficientes fazem escolhas de portfólios. A Petrobras precisa de concorrência. Ela tem que decidir sobre muita coisa, como nunca antes. Quando você não enfrenta competição, seus custos aumentam e a eficiência diminui.

As intenções do governo eram de fortalecer a economia brasileira e maximizar a produção, com uma fonte de renda justa para o Estado brasileiro. Mas isso não foi feito de forma eficiente. Poderia ter sido feito com royalties e impostos, mas decidiram controlar a produção, o que não é o curso mais eficiente.

O colapso das empresas de Eike Batista influenciou essa má imagem do setor?
Havia preocupações de corrupção à transparência, mas elas já são descontadas em diversos países. O que houve com o Eike foi uma excessiva aposta em algo que parecia atraente. O mercado só lê o retorno dos investimentos. Antes disso, continua apostando. Quem não se lembra da [petroleira americana] Enron [que pediu recuperação judicial nos EUA em 2001, quando estourou um escândalo contábil, e deixou de existir em 2006]?


Os preços controlados da gasolina no Brasil acabaram deixando menos competitivo o álcool, e a indústria do etanol no Brasil está em queda. Ela tem chances de se recuperar?
É irônico que os EUA hoje exportem etanol de milho para o Brasil. Mas acho que faltam benefícios para o clima com o etanol de milho. O etanol de cana de açúcar produz menos intensamente CO2 e deveria ter um papel maior no mercado global. O declínio do setor por culpa dos preços de gasolina no Brasil é uma perda para o Brasil e para o mundo, porque era um setor inovador e ambicioso, e uma indústria que queria ser parceira dos EUA. Talvez eles terão que investir aqui.  


Apesar das tensões causadas pela milícia Estado Islâmico e da turbulência no Oriente Médio, o preço do petróleo está caindo. Por quê?
Os EUA tiveram um fenomenal crescimento na produção de petróleo, de 3 milhões de barris diários a mais nos últimos quatro anos. Só a Arábia Saudita uma vez em toda sua história teve uma alta assim. Acrescentaremos um milhão de barris diários a essa produção no ano que vem.

Os países da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) têm produzido sem parar, o Canadá está produzindo mais, e a Líbia cresceu muito este ano. Tudo isso compensa as interrupções no Iraque, no Sudão, a produção menor na Venezuela e o Irã sob sanções. Com a Europa estagnada e a China desacelerando, a demanda não consegue empurrar os preços para cima.

A Arábia Saudita tampouco reduziu a produção. Por quê?
A sabedoria convencional sugeriria que a Arábia Saudita deveria cortar a produção para manter os preços, mas ela não tem muito interesse em aumentar o orçamento para exploração no Iraque ou no Irã e quer manter sua cota de mercado, renunciando a um aumento do preço do petróleo. De qualquer maneira, o preço internacional pode subir ou baixar entre US$ 20 a US$ 30 por mudanças para bem ou para o mal no Iraque, Irã, no Sudão, na Venezuela e em mais alguns poucos países.


Há escassez de água em diversos Estados americanos, e o uso da fraturação hidráulica para explorar gás e petróleo gasta muita água, além de contaminá-la, segundo boa parte dos especialistas. Isso não será uma barreira para a sua exploração?
A falta de água é um assunto importante, mas a indústria está se adaptando, usando cada vez mais água salgada e reciclando água, onde ela é mais necessária como no Texas ou em Oklahoma. Mas a maior barreira para essa indústria é preços baixos e pouca demanda, que não deixem economicamente viável o negócio.

A Argentina tem reservas muito mais extensas de gás que o Brasil. Ela pode se tornar uma potência na área?
O gás é um recurso suficientemente atraente para levar investimentos, mesmo que na história argentina nada sugira que seja um lugar confiável a longo prazo. Mas empresas petrolíferas tomam riscos, e o sucesso da Argentina vai depender do regime de impostos, se vão permitir exportações, se haverá preço de mercado e se você vai poder tirar o dinheiro que investir lá. Mas é um país volátil, de alto risco.


Com os preços de petróleo e gás em queda, energias renováveis como a solar e a eólica têm chance de se tornar competitivas no futuro próximo?
A energia solar está fazendo muitos avanços, a tecnologia se desenvolve rapidamente e tem mais financiamento. Um nicho que não para de crescer é o leasing de energia solar para consumidores domésticos. Por enquanto, a solar está crescendo mais que a eólica. 
Folha, 22.10.2014.

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quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Sol e vento alteram a equação energética

Por JUSTIN GILLIS - Heligoland, Germany

Poucos países desenvolvidos se empenham mais que a Alemanha para descobrir soluções para o aquecimento global. Atualmente, símbolos altaneiros desse empenho estão surgindo no meio do mar do Norte.
Situadas a 95 quilômetros do continente, turbinas eólicas da altura de edifícios de 60 andares têm preço unitário de US$ 30 milhões (R$ 70,5 milhões).
Até o final do ano, um grande número de novas turbinas enviará energia elétrica de baixa emissão de poluentes para cidades alemãs a centenas de quilômetros de distância, no sul.As turbinas integram a ambiciosa tentativa da Alemanha de refazer seu sistema de energia elétrica, um projeto que vem gerando resultados surpreendentes: em breve, 30% da energia elétrica do país vêm de fontes renováveis.
Muitos países menores superam a marca, mas a Alemanha é a maior potência a atingir esse nível, que é mais que o dobro da porcentagem dos EUA.
A aposta alemã em energia renovável também tem implicações muito além de suas fronteiras. Ao criar uma enorme demanda por turbinas eólicas e painéis solares, o país atraiu fabricantes chineses para o mercado, o que reduz os custos com uma velocidade impensável há poucos anos.
Executivos de companhias de eletricidade em todo o mundo estão vendo tecnologias antes consideradas irrelevantes começarem a ameaçar seus planos de negócios há muito consolidados.
Conflitos estão surgindo nos EUA em relação às futuras regras da energia renovável.
Muitos países pobres, que antes pretendiam construir usinas elétricas a carvão para suprir suas populações, estão analisando se é possível saltar a etapa dos combustíveis fósseis e partir direto para a construção de sistemas energéticos limpos.
Já existe uma avaliação clara das consequências disso na Alemanha: as mudanças devastaram suas companhias públicas de eletricidade, cujos lucros com energia despencaram.
Um padrão semelhante pode ser observado em outros lugares. Alguns estados americanos, impacientes com a morosidade em Washington, estabeleceram suas próprias metas para obter 20% ou 30% de energia renovável até 2020.
O plano de transição energética na Alemanha se chama "energiewende". O país é apontado mundialmente como um exemplo de que é possível transformar o sistema global de energia.
Especialistas dizem que o setor de energia elétrica está entrando em um período de turbulência sem precedentes em 130 anos, um abalo comparável ao sofrido nos últimos anos por companhias aéreas, a indústria fonográfica e a telefonia.
A potencial contrapartida é formidável: um sistema de energia elétrica mais ecológico, com menos poluição. Não se sabe ainda se o sistema pode ser alterado com rapidez suficiente para reverter os perigosos níveis atuais do aquecimento global.
"Tenho certeza de que o vento e o sol serão as principais fontes de energia, não só na Alemanha, mas no mundo inteiro", afirmou Patrick Graichen, que dirige o centro Agora Energiewende. "A questão é como assegurar que essa transição se transforme em uma história de sucesso."
A Alemanha gastou mais de US$ 140 bilhões (R$ 329 bilhões) em seu programa, oferecendo vantagens para os que quisessem instalar painéis solares, turbinas eólicas, usinas de biogás e outras fontes renováveis de energia.
O plano é financiado por meio de sobretaxas nas contas de energia elétrica, as quais geralmente são de cerca de US$ 280 (R$ 658) por ano para uma família alemã típica. Parte disso tem sido compensado com fontes renováveis, que reduziram os preços da energia elétrica no atacado.
O programa gerou imensas economias de escala, com a venda global de painéis solares dobrando a cada 21 meses ao longo da década passada, e os preços tendo queda de cerca de 20% a cada período desses.
"Os alemães não estão comprando energia, e sim quedas de preço", disse Hal Harvey, que dirige um centro de pesquisa sobre energia em San Francisco (EUA).
Essas oscilações fizeram alguns fabricantes de painéis americanos abandonarem o ramo, queixando-se dos subsídios do governo chinês para seus fabricantes, que se apoderaram de grandes fatias do mercado.
Todavia, o declínio também abriu uma oportunidade para proprietários de residências e empresas americanas como a Lennar, a segunda maior construtora residencial do país. Em cem loteamentos na Califórnia, quem compra uma casa nova ganha painéis solares no telhado.
A Lennar continua sendo proprietária dos painéis e faz contratos de 20 anos para vender aos donos das casas a energia gerada em seus telhados, dando um desconto de 20% em relação aos preços da companhia de eletricidade.
"A ideia é muito simples. Basta dizer ao cliente que, com isso, ele fará uma grande economia", disse David J. Kaiserman, da Lennar.
Após quedas drásticas nos últimos anos, o preço da energia agora é competitivo em relação ao custo de usinas elétricas a carvão em algumas regiões dos EUA.
A queda no custo da energia renovável é um problema em potencial para empresas elétricas. Elas lucram muito nas horas do dia com maior demanda de energia, impondo preços altos. A energia solar pode ser particularmente prejudicial para essas empresas, pois reduz os preços no atacado durante os períodos de pico.
Embora esteja se expandindo rapidamente, a energia solar ainda equivale a menos de 1% da energia gerada nos EUA.
Algumas companhias públicas de eletricidade começaram a atacar as diretrizes que estimulam os painéis, ao passo que outras entram no mercado de energia solar.
Empresas novatas com rápido crescimento oferecem aluguel de painéis solares para proprietários de residências, com financimaneto bancário. O epicentro desse movimento é a Califórnia, cuja meta é contar com 33% de energia renovável até 2020.
Na Alemanha, onde os painéis solares suprem 7% do consumo de energia e as turbinas eólicas, cerca de 10%, os preços da energia no atacado despencaram nas horas mais rentáveis do dia.
"Demoramos para entrar no mercado de energias renováveis e agora talvez seja tarde demais", disse nesta primavera Peter Terium, diretor-executivo da megacompanhia pública RWE, quando anunciou um prejuízo anual de US$ 3,8 bilhões (R$ 8,9 bilhões).
As grandes empresas de eletricidade alemãs têm sido obrigadas a modular rapidamente a produção em suas usinas elétricas convencionais para compensar a energia renovável intermitente.
Como as usinas não são necessariamente lucrativas quando operadas dessa maneira, essas companhias ameaçam fechar algumas unidades que, segundo analistas, são necessárias como reserva emergencial para o país.
Outro componente que complica a situação é a determinação do governo a acabar com as usinas nucleares alemãs em dez anos.
À medida que o plano progride e elimina uma fonte de energia com baixa emissão de poluentes, a redução dos gases de efeito estufa na Alemanha chegou a um impasse.
Os problemas cresceram com tamanha rapidez que o governo tenta desacelerar a transição, o que não é bem aceita pela opinião pública.
Há poucos dias, enquanto participava de uma passeata com milhares de manifestantes em uma rua de Berlim, Reinhard Christiansen, diretor de uma pequena empresa especializada em energia renovável na cidade de Ellhöft, disse: "Nosso temor é que o governo esteja tentando frear a transição energética".
Especialistas dizem que as novas regras do mercado poderiam manter os custos em um patamar razoável. Algumas inovações recomendadas por eles já foram adotadas em parte.
Desenvolvidas nos EUA e sob estudo na Alemanha, elas incluem pagamentos regulares para persuadir companhias públicas de eletricidade a manter de reserva algumas usinas que usam combustíveis fósseis.
Porém, é provável que as maiores inovações se concentrem nos hábitos de consumo de energia.
A Apple e o Google, por exemplo, investem bilhões em negócios que aproveitem as novas oportunidades. Isso inclui ajudar proprietários de casas a administrar seu consumo de energia.
Os preços da energia elétrica, em vez de calculados por mês, poderiam variar em tempo real. Altas nos preços estimulariam a economizar. Inversamente, chips instalados em aparelhos como aquecedores de água poderiam ligá-los quando houvesse abundância de energia e preços baixos.
Para os alemães, a imprevisibilidade da energia renovável em terra firme explica o interesse pelo vento em alto-mar. As brisas constantes no mar do Norte e no mar Báltico garantem que as turbinas por lá produzam bem mais energia do que turbinas em terra.
É por isso que três companhias de eletricidade virtualmente passaram a controlar a ilha de Heligoland. Ela se tornou a base de operações para as fazendas eólicas enormes que estão instalando.
Por ora, as fazendas oneram em bilhões os custos para consumidores que já arcam com painéis solares, turbinas eólicas no continente, usinas de biogás e na transição para energia renovável.
Pesquisas, porém, indicam que os alemães estão dispostos a carregar esse fardo. "A Alemanha é um país rico", disse Markus Steigenberger, analista do Agora. "É uma dádiva para o mundo."NYT, 23.09.2014.
Colaboraram Eric Olsen, de Berlim, Matthew L. Wald, de Nova York, e Chris Cottrell de Heligoland, na Alemanha
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terça-feira, 12 de agosto de 2014

Exxon aposta alto em diesel na Europa Empresa espera lucrar com tendência do mercado

Por STANLEY REED

LONDRES - Na oficina mecânica de Dimitris Poliviou, no bairro londrino de Belsize Park, os clientes estão optando cada vez mais por veículos movidos a diesel. "Há quantidades crescentes deles", disse Poliviou.
As estatísticas confirmam sua opinião. Nos últimos 25 anos, os motoristas europeus passaram a preferir carros a diesel, tentando economizar dinheiro em uma região onde os combustíveis custam caro. Mais da metade dos novos carros registrados na Europa Ocidental no ano passado eram movidos a diesel, sendo que, em 1990, a cada dez carros vendidos apenas um tinha essa característica. Agora, a Exxon Mobil, maior empresa petrolífera dos Estados Unidos, está tentando aproveitar o boom do diesel para reanimar suas refinarias em dificuldades na Europa.
Como o refino de petróleo passou a dar prejuízo para a maioria de seus concorrentes europeus, a Exxon Mobil pretende investir mais de US$ 1 bilhão (R$ 2,27 bi) para aumentar a produção de diesel em sua grande refinaria em Antuérpia, Bélgica.
Steve Hart, diretor de refino da Exxon Mobil para a Europa, disse no mês passado que a empresa estava cogitando investir em diesel em outros locais na Europa, onde ela tem nove refinarias e ocupa o segundo lugar no ranking da indústria, atrás da gigante francesa Total. Segundo Hart, por meio de sua rede de refinarias no noroeste da Europa, a Exxon Mobil recolherá combustíveis pesados que não têm mais muita demanda -como o carvão consumido por caldeiras de navios mais antigos- e os levará de navio para Antuérpia. Uma nova unidade de refino nessa cidade irá destilar as substâncias viscosas, transformando-as em diesel e em um combustível mais leve semelhante ao utilizado por navios mais modernos. A empresa então venderá o diesel no noroeste da Europa, que atualmente o importa dos EUA, do Oriente Médio e da Rússia.
A Exxon Mobil está seguindo uma tendência que inicialmente foi estimulada pela taxação mais baixa sobre carros a diesel.
Montadoras da Alemanha e da França desenvolveram versões a diesel do Volkswagen Golf, do Audi A4, do Renault Clio e do Peugeot 308, as quais abocanharam dois terços do mercado de carros novos na França, na Espanha e na Bélgica, e metade desse mercado no Reino Unido e na Alemanha.
"As pessoas preferem a potência do diesel, que parece tornar os carros muito mais velozes", comentou Luke Madden, editor dos sites Auto Express e Carbuyer, baseados em Londres. Madden disse que os carros a diesel têm melhor eficiência de combustível do que os movidos a gasolina.
Mudanças no consumo de combustível deixaram as refinarias europeias com uma combinação de produtos excessivamente ligados à gasolina.
Muitas, porém, não podem fazer os investimentos necessários para se adaptar ao novo ambiente de negócios.
Robert Campbell, da empresa de pesquisas de mercado Energy Aspects, calcula que as refinarias menores estejam perdendo de US$ 4 a US$ 6 por barril de petróleo que processam, ao passo que as maiores podem estar lucrando de US$ 1 a US$ 2 por barril. Segundo ele, as refinarias acham que "a demanda por petróleo na Europa está diminuindo, então não há motivo para investir em refinarias".
Alguns analistas questionam se a nova jogada da Exxon Mobil é sensata, uma vez que a indústria petrolífera ainda lida com uma capacidade excedente considerável. Oswald Clint, da Bernstein Research em Londres, disse que a Exxon Mobil poderia aumentar os lucros com mais rapidez se fechasse as unidades que estão deficitárias na Europa.
Outros discordam.
"As refinarias europeias têm de investir em um ambiente difícil para sobreviver em longo prazo", disse Paul Hodges, da firma de consultoria International eChem, em Londres.
"Custaria muito mais caro fingir que o mercado global voltará a ser como há 25 anos."
NYT, 12.08.2014.
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quinta-feira, 17 de julho de 2014

Recursos nem tão naturais

MARCELO MITERHOF

Livro defende que é melhor incentivar a indústria nacional a inovar em áreas como agricultura e petróleo

A busca do desenvolvimento econômico com base em recursos naturais tem se mostrado uma estratégia limitada quando se compara a América Latina com as industrializações mais bem-sucedidas da Ásia.
Há algumas explicações possíveis e não necessariamente excludentes de por que a abundância de terras férteis, petróleo ou minerais pode se mostrar disfuncional: uma tendência à apreciação cambial, que prejudica a competitividade da indústria de transformação, e o estabelecimento de uma cultura imediatista, que dificulta o adensamento tecnológico e de conhecimento nos processos produtivos.
Nesse sentido, um interessante contraponto é dado pelo livro "Recursos Naturais e Desenvolvimento", escrito pelos economistas João Furtado e Eduardo Urias e recentemente editado pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Um ponto inicial é que os recursos naturais não são um simples presente da natureza, mas uma criação humana. É o progresso técnico que tanto dá utilidade ao que existe no planeta como os torna disponíveis, desenvolvendo formas de encontrá-los e extraí-los em condições que crescentemente são mais difíceis.
Evidência disso é que o EUA, país tido por Benjamin Franklin no fim do século 18 como pobre em recursos naturais, se tornou o maior produtor mundial de minério no século seguinte. A intensa exploração de seus recursos naturais no século 19 fez suas reservas crescerem substancialmente. De forma semelhante, no Brasil, o uso de pesquisas e tecnologias ajudou a criar no cerrado uma agricultura pujante.
Uma estrutura produtiva baseada em recursos naturais não precisa ser meramente rentista, calcada apenas numa eventual facilidade de sua obtenção. Há esforços de inovação e de encadeamento industriais, casos dos bens de capital e implementos agrícolas, que podem alavancar o desenvolvimento.
Ainda assim, ao longo do último século os preços dos bens intensivos em recursos naturais caíram significativamente em relação aos dos bens industrializados. Estabilizado o ritmo de urbanização na Europa e nos EUA, o crescimento nos países ricos foi ao longo do século 20 marcado por diversificação da oferta de bens e serviços, que são cada vez mais imateriais. Um carro ou um eletrodoméstico tem conteúdo de aço e plástico, porém mais valiosos são as tecnologias que carregam.
Entretanto, tal panorama mudou com a emergência da China e seus vizinhos, cujo crescimento é acompanhado de uma urbanização de escala sem precedentes.
Com isso, a China, que, por exemplo, no ano 2000 importava 70 milhões de toneladas de minério de ferro, equivalentes a 14% do comércio internacional, em 2008 deu um salto para 444 milhões, quase metade das compras externas globais. Na soja, suas compras passaram de 10 milhões de toneladas para quase 60 milhões de 2000 a 2012, saindo sua fatia no mercado de menos de um quinto para quase dois terços.
Como a urbanização asiática ainda está longe de acabar, é provável que os impulsos nos preços dos recursos naturais sejam duradouros.
É verdade que um avanço de tal proporção na taxa global de urbanização traz pressões políticas, econômicas e ambientais para melhorar a eficiência de seu uso. Porém isso é mais uma alavanca que um impedimento para o desenvolvimento de inovações e de uma estrutura produtiva baseada em recursos naturais.
A conclusão do livro é que esse é um caminho melhor que tentar enfrentar a competição dos países ricos e dos emergentes asiáticos em setores altamente dinâmicos, como microeletrônica ou química fina, ou nos intensivos em trabalho. Seria mais efetivo impulsionar a diversificada indústria brasileira para inovar e incorporar conhecimento na provisão de serviços, insumos e bens de capital para as atividades voltadas para agricultura, mineração, energias renováveis e petróleo etc.
Canadá e Austrália são exemplos de países ricos que desenvolveram dinâmicos setores em recursos naturais, incluindo uma forte base industrial exportadora.
Mas esses são países de populações reduzidas. Um país populoso como o Brasil não deveria abrir mão de ter uma estrutura industrial diversificada (e competitiva).
Ainda assim, e dando os devidos descontos por ser uma publicação setorial, o texto é proveitoso por mostrar que foco e pragmatismo --além de paciência, vale acrescentar-- são cruciais na criação de uma base empresarial inovadora. Folha, 17.07.14.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Usinas concorrentes tentam eliminar incentivo de eólicas: Câmara de comercialização e agência nacional de energia consideram que fonte já é competitiva

No Congresso, entidade de pequenas hidrelétricas trabalhou por fim de desconto para geração por vento
MACHADO DA COSTADE SÃO PAULO
Geradores de energia a partir de outras fontes renováveis estão pressionando o Congresso Nacional e outros órgãos federais para retirar incentivos à energia eólica, já que esta se tornou mais competitiva que a biomassa e pequenas centrais hidrelétricas.
O que adeptos das eólicas têm chamado de "lobby" convenceu o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) a incluir uma emenda à medida provisória 641 com o objetivo de retirar o desconto de 50% das tarifas de uso de sistemas de transmissão e distribuição.
No entanto, é na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) que cresce com mais força o entendimento de que as eólicas não precisam mais dos incentivos.
PRÓPRIAS PERNAS
Em relação aos dois órgãos, a Folha apurou que a visão é que a geração de energia elétrica a partir dos ventos se tornou tão competitiva que, mesmo sem incentivos, continuaria mais atrativa.
"Falta, na verdade, coragem para retirar o incentivo. Isso poderia representar um desgaste com o setor", disse uma pessoa ligada à CCEE.
A tentativa de mudança no Congresso aconteceu por iniciativa da Associação Brasileira de Fomento às Pequenas Centrais Hidrelétricas (AbraPCH). No início de julho, segundo apurou a Folha, a entidade convenceu o senador Vital do Rêgo a alterar emenda do deputado Arnaldo Jardim (PPS-SP).
A proposta de Jardim era estender à geração por biomassa os benefícios dados à geração eólica. Mas, depois da reunião, a proposta se transformou na retirada de todos os incentivos às eólicas.
PRESSÃO
Segundo Jardim, Rêgo fez o adendo à sua proposta sem consultá-lo. "Há um grupo de dissidentes que está pressionando o Congresso para retirar os incentivos à eólica. O que eu pedi foi apenas a extensão do benefício à biomassa, que está sem competitividade", afirmou Jardim.
A assessoria de Rêgo diz que o texto foi mudado após reunião com representantes do setor no Congresso, o que incluiria o deputado.
Um membro da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) diz que o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN), precisou intervir para fazer Rêgo desistir da emenda contra o segmento.
Procurada, a presidente da Abeeólica, Élbia Melo, diz que não acredita que tal proposta passasse no plenário.
O presidente da AbraPCH, Ivo Pugnaloni, afirmou que se reuniu com os assessores legislativos de Rêgo, mas negou que tenha trabalhado contra os incentivos para a geração eólica.
"A medida, que hoje é contra as eólicas, amanhã pode ser contra nós", disse. Folha, 03.07.2014.

terça-feira, 17 de junho de 2014

Belo Monte: O preço do atraso

Concessionária da usina de Belo Monte pede adiamento da geração de energia, no que repete a praxe do setor de estourar prazos e custos
Não chega a ser surpresa que vá atrasar a geração de energia pela usina de Belo Monte. Já em dezembro, segundo reportagem que esta Folha publicou sobre o maior empreendimento hidrelétrico do país (folha.com/belomonte), sabia-se que a operação da primeira turbina ultrapassaria em alguns meses o prazo previsto, fevereiro de 2015.
O atraso, porém, afigura-se bem mais sério. Em correspondência enviada à Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a concessionária Norte Energia S.A. propõe novo cronograma que adia todo o projeto em pelo menos um ano.
A empresa culpa os suspeitos de sempre: licenciamento ambiental, greves e bloqueios dos canteiros por grupos contrários à hidrelétrica. Tudo isso é parte da verdade, mas não é a verdade toda.
Atrasos em obras de infraestrutura são a regra. Licitações bilionárias se realizam com base em projetos básicos e informações inadequadas. Relatório da CNI (Confederação Nacional da Indústria) passou pente-fino em seis empreendimentos recentes e concluiu que as demoras acarretaram custos adicionais da ordem de R$ 28 bilhões.
Os prazos considerados são em geral irreais, a começar pelo burocrático licenciamento ambiental, também lastreado em dados incompletos. Como o aprofundamento dos estudos de impacto e as providências de remediação só começam após a concessão, a obra física ganha prioridade sobre as compensações socioambientais e dão margem ao sem-número de revisões, ações e liminares judiciais.
Há, além disso, deficiências graves no planejamento da construção de hidrelétricas, e não só no Brasil.
Um estudo da Universidade de Oxford (Reino Unido) publicado neste mês no periódico "Energy Policy" examinou 245 barragens erguidas de 1934 a 2007, ao custo de US$ 353 bilhões (preços de 2010).
Constatou que 75% dos projetos enfrentaram aumentos de custos, em média de 96%. O viés de subestimação de prazos e preços não melhorou no período e está presente nos cinco continentes.
A Norte Energia pede à Aneel isenção de responsabilidade pelo atraso, que resultaria de atos do poder público ou de casos fortuitos e de força maior. Ou seja, a concessionária almeja livrar-se do ônus financeiro representado pela energia prevista em contrato que deixará de ser entregue.
"Atrasos têm consequências funestas", ensinou Shakespeare no drama histórico "Henrique 6º". Funestas e dispendiosas, seria o caso de acrescentar. Compete à Aneel e à Norte Energia encontrar maneiras de reduzir ao máximo as perdas, que em última análise recairão sobre o consumidor e o contribuinte brasileiro.

http://arte.folha.uol.com.br/especiais/2013/12/16/belo-monte/index.html
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terça-feira, 20 de maio de 2014

Fusões e aquisições recuam entre empresas de mineração

Enquanto as áreas de energia e óleo e gás registraram altas no total de fusões e aquisições no início deste ano, o segmento de mineração observou recuo no número de operações, segundo a KPMG.
De janeiro a março, só uma transação envolvendo mineradoras foi feita no país --é o pior resultado de um primeiro trimestre em cinco anos.
A indefinição sobre o novo Código de Mineração, cuja votação permanece emperrada no Congresso, é uma das principais razões para o esfriamento, diz Paulo Guilherme Coimbra, sócio da KPMG.
"Quando não há um marco regulatório bem definido, há uma dificuldade de as empresas entenderem o que vai acontecer", afirma. "Isso acaba afastando o interesse de investidores, principalmente em novos projetos."
Outra causa é o atual momento do setor, que passa por um período de preços mais baixos, em razão do crescimento menor da economia chinesa, maior compradora do minério de ferro do Brasil.
A área de energia, por sua vez, registrou 13 fusões e aquisições no primeiro trimestre deste ano, um avanço de 160% em relação ao mesmo período de 2013.
O mercado está aquecido por causa da demanda por energia puxada pela falta de chuvas e pelo atraso na entrada de novos projetos de geração, segundo Coimbra.
"O preço da energia está lá em cima e isso favorece o número de fusões entre as companhias", afirma.
As transações envolvendo empresas do segmento de óleo e gás também avançaram nos primeiros três meses --foram nove (alta de 125%).
Os negócios ocorreram sobretudo na compra e venda de participação em direitos de concessão de blocos petrolíferos no país. Folha, 20.05.14

terça-feira, 15 de abril de 2014

Chineses compram a mina de cobre Las Bambas no Peru

Um consórcio chinês comprou da Glencore a mina de cobre Las Bambas, no Peru, por US$ 6 bilhões. A empresa precisava vender o ativo para ter aprovada a sua fusão com a mineradora Xstrata. A aquisição da mina foi a maior já realizada no setor por um grupo da China, líder no consumo do metal. Folha, 15.04.2014
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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Vale se recusa a pagar mais por Simandou

O projeto Simandou é alvo de revisão contratual pelo governo da Guiné após um conturbado processo de transferência de seus direitos minerários

Por Sabrina Lorenzi, da 
02/04/2013 20:18
REUTERS/Lunae Parracho
Vista geral da mina de Ferro Carajás operada pela companhia Vale, no Pará
Carajás: a BSG formou uma joint venture com a Vale; porém, a mineradora brasileira decidiu colocar o projeto em revisão diante das condições conturbadas e priorizou outros projetos no Brasil
Rio de Janeiro - A Vale se recusa a pagar mais do que já foi desembolsado ao sócio BSG Resources pelo projeto Simandou, na Guiné, colocado em revisão em meio a incertezas políticas e à ameaça de que os direitos minerários sejam confiscados pelo país africano.
A segunda maior mineradora do mundo, que em 2010 adquiriu 51 por cento do projeto por 2,5 bilhões de dólares --dos quais já pagou 500 milhões de dólares--, prevê que o assunto chegará aos tribunais e já incluiu o tema entre causas passíveis de processos judiciais, de acordo com um relatório ao divulgado nesta terça-feira.
O vendedor, a BSG Resources, que detém os 49 por cento restantes do projeto, exigiu a realização dos pagamentos que faltam, mas a Vale alega que o montante deveria ser pago apenas à medida em que metas específicas fossem atingidas.
"Defendemos que a demanda é sem mérito, pois as condições para o pagamento não foram cumpridas e ocorreu um evento de força maior nos termos do contrato. Pretendemos defender vigorosamente a nossa posição no caso do vendedor reivindicar qualquer exigência", disse a Vale em seu relatório 20F, elaborado para atender a exigências do mercado norte-americano.
O projeto Simandou é alvo de revisão contratual pelo governo da Guiné após um conturbado processo de transferência de seus direitos minerários.
Os direitos pertenciam a uma rival da Vale, a Rio Tinto, mas foram confiscados pelo governo.
A BSG Resources, de propriedade do bilionário israelense de diamantes Beny Steinmetz, chegou a um acordo em 2008 para controlar metade do depósito de minério de ferro Simandou --uma das maiores reservas não exploradas do mundo. Não houve pagamento em dinheiro, embora tenha investido 160 milhões no projeto e tenha se comprometido a gastar 1 bilhão de reais para reconstruir uma estrada de ferro.
Dois anos depois, a BSG formou uma joint venture com a Vale. No entanto, a mineradora brasileira decidiu colocar o projeto em revisão, diante das condições conturbadas e priorizando outros projetos no Brasil, como o de Serra Sul.
"De acordo com os regulamentos adotados pelo governo, o processo de revisão contratual poderá resultar no cancelamento ou renegociação dos direitos de mineração dependendo das descobertas e das recomendações do comitê técnico responsável pela realização do processo de revisão contratual", disse a Vale no relatório.
O presidente da Guiné, Alpha Condé, chegou ao poder no país do Oeste africano em 2010 com a promessa de fortalecer o setor de mineração, cujas ricas reservas de ouro, diamante, bauxita e minério de ferro têm atraído pouco investimento devido a décadas de corrupção e desordem.
Fonte: http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/vale-se-recusa-a-pagar-mais-por-simandou