quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Terras Raras - Brasil dá a largada na corrida por metais de tablets e de mísseis

 
O governo federal iniciou a corrida em busca dos recursos naturais mais cobiçados do século 21: os metais conhecidos como terras-raras

Folha de São Paulo, 22/08/2013
DIANA BRITO
DENISE LUNA
DO RIO

Eles são ingredientes essenciais na produção de derivados da alta tecnologia, como tablets, mísseis teleguiados, carros elétricos e geradores eólicos.

Edson Silva/Folhapress
Jazida da Vale Fertilizantes em Tapira, MG; terras-raras podem ser retiradas dos rejeitos de nióbio e fosfato
Jazida da Vale Fertilizantes em Tapira, MG; terras-raras podem ser retiradas dos rejeitos de nióbio e fosfato

Em entrevista à Folha, o ministro de Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp, informou que contratou a consultoria da Fundação Certi (Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras) para desenvolver estudos sobre a exploração de terras-raras no Brasil.

Um pré-estudo, feito pelo Centro de Gestão de Estudos Estratégicos do ministério, ficou pronto neste mês e servirá de base para o trabalho da Certi.

Ainda sem noção exata sobre o volume existente em território nacional, Raupp afirmou que o trabalho vai traçar toda a trajetória tecnológica de exploração dessa riqueza no país, até o final da cadeia.

Mapeamos só metade do Brasil e estamos em quarto ou quinto lugar em reservas. Depois de mapear todo o território vai ser muito mais."

Segundo a USGS (Agência de Serviços Geológicos Norte-Americana), a estimativa é que o Brasil tenha reservas de ao menos 3,5 milhões de toneladas de terras-raras, ante 55 milhões da China, país que tem 36% das reservas e 95% da produção mundial.

LEILÕES
Após a conclusão do trabalho da Certi, previsto para o início de 2014, a meta é fazer leilões específicos de áreas de terras-raras para exploração, nos moldes do que ocorre hoje com o petróleo.

O ministro diz que o estudo vai definir a trajetória que o governo seguirá para implementar desde a base tecnológica e científica, até chegar à mineração e à produção.

O levantamento também vai apontar o tipo de empresa que será preciso atrair para agregar valor aos minerais, e não exportar apenas matéria-prima, como ocorre com o minério de ferro.

O foco de exploração no Brasil será o segmento de ímãs, utilizados em geradores elétricos, smartphones, telas LCD e refrigeradores, entre outros, informou o superintendente da Fundação Certi, ligada à Universidade Federal de Santa Catarina, Carlos Alberto Schneider.

A monazita, minério encontrado na areia de praias, rende em média US$ 500 a tonelada e gera 360 quilos de ímã, que, por sua vez, é negociado a US$ 100 mil a tonelada.

Atualmente sem nenhuma participação nesse mercado, a meta é chegar a 1% no ramo de ímãs em 2015 e a 30% em 2030, quando o segmento estará movimentando algo em torno dos US$ 10 bilhões.

Os ímãs são muito utilizados também em carros elétricos, cuja produção começa a ser estimulada no país.



Exploração de terras-raras exige cuidados, afirmam pesquisadores

A CPRM (Companhia de Pesquisa e Recursos Minerais) também desenvolve um programa de pesquisa em terras-raras, que consiste na análise geoquímica de amostras de projetos antigos dos últimos 40 anos da empresa.

Muitos desses projetos estão na Amazônia, mas existem pesquisas também em novas áreas em Minas, em Goiás, em Roraima e na Amazônia. "Nossos geólogos estão percorrendo o país buscando identificar potenciais depósitos de terras-raras", informou a companhia.

Para o diretor da CPRM, Roberto Ventura, é importante não só mapear onde estão os depósitos de terras-raras mas também desenvolver tecnologia.

O motivo é que alguns desses elementos químicos são radioativos, o que torna o processo tecnológico de exploração ainda mais complexo e exige armazenamento especial.

Ele concorda com o ministro Raupp que é necessário desenvolver uma cadeia tecnológica, principalmente para agregar valor e evitar a exportação dessa riqueza em forma de matéria-prima, como ocorre com o minério de ferro.

"O país já explorou a monazita [terra rara que contém tório e urânio], encontrada nas areias de algumas praias, mas por questões ambientais não se faz mais a extração", afirma Ventura.

Para entrar nessa corrida, o Ministério de Ciência e Tecnologia destinou R$ 9 milhões ao CNPq para a concessão de bolsas para pesquisa e formação de mão de obra em terras-raras no país.

Enquanto isso, o país continua sendo fornecedor de matéria-prima.

No Brasil, a canadense Mbac Fertilizers é a empresa mais avançada na exploração de terras-raras e deve sair na frente.

A companhia confirmou a existência e viabilidade comercial de elementos de terras-raras em Araxá, no Alto Paranaíba. e pretende alocar US$ 620 milhões na exploração de óxidos desses metais, além de nióbio e fosfatos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário